Maria Fanchin e Mariana Leme
CADÊ
O MÁRIO?
No
ano de 1989 o estreante Gabriel Villela apresentou dois espetáculos muito bem
sucedidos no Centro Cultural São Paulo. O primeiro foi Você Vai Ver o Que Você Vai Ver encenado em um ônibus no foyer e o
segundo, Concílio de Amor, foi
montado no porão do Centro Cultural. Salvo engano, essa foi a primeira
utilização daquele mágico espaço, que depois seria batizado de Espaço Cênico Ademar Guerra e teve momentos de
glória, sendo que uma de suas melhores utilizações foi a montagem em 1994 de A Gaivota dirigida por Francisco
Medeiros com belíssima cenografia de J. C. Serroni que recriava alí “um trecho
do parque da propriedade de Sorín, irmão de Arkádina” como pede Tchekhov
nas rubricas da peça.
Todo
esse preâmbulo é para ressaltar a importância do porão do Centro Cultural São
Paulo que ficou fechado por três anos e que agora ressurge reformado e com melhores
condições técnicas para abrigar espetáculos teatrais. A arquitetura do local é
hipnótica por meio de suas pilastras e paredes. Espaço tão amplo e belo sofre
com problemas incontornáveis de acústica que devem ser grande desafio para quem
ali apresenta seus trabalhos.
No
dia histórico de 01/12/2017 o porão reabriu suas portas e foi sob forte emoção
que o público adentrou aquele espaço para assistir a Pequenas Certezas, seu cartaz da reabertura.
A
ironia da instigante peça da dramaturga mexicana Bárbara Colio já começa no
título: a grande sacada é que não há certeza de coisa nenhuma e o espectador sai
da peça só com perguntas e suposições. Cadê o Mário?
A
peça mostra várias personagens que se relacionaram com o tal de Mário que certo
dia sumiu da vida de todas elas: a namorada Natália, sua mãe – exímia na
confecção de bolo de chocolate e fã ardorosa de visitar necrotérios -, os
irmãos Sofia e João e, finalmente, Olga, amiga de Natália, que não tem nada a
ver com Mário, mas mete o bedelho em todos os assuntos.
Essa
fauna se reúne em Tijuana, residência dos irmãos, na tentativa de responder à
pergunta: Cadê o Mário? Momentos hilários mesclam-se com outros dramáticos
revelando a habilidade da dramaturga na condução da narrativa com um desfecho
extremamente criativo e surpreendente.
Fernanda
D’Umbra soube utilizar muito bem a parte que lhe coube daquele latifúndio,
perdão, daquele porão. Auxiliada pela linda iluminação de Aline Santini, D’Umbra
faz seus personagens circularem por recantos, escadas e mezaninos preenchendo o
espaço cênico de maneira surpreendente. Há singela homenagem a Phedra de Córdoba por meio de foto sua pendurada na parede em certo momento da ação. Ao final do espetáculo, a diretora também fez emocionada homenagem ao saudoso Sebastião Milaré, grande incentivador de nosso teatro.
Chris
Couto com toda sua tarimba teatral encarrega-se da patética mãe e, junto com a
ótima Maria Fanchin, é responsável pelos momentos mais engraçados da peça. Rita
Batata (Sofia) revela potente expressão corporal na primeira parte do espetáculo,
tendo um momento coreográfico muito bonito no mezanino. Mariana Leme (Natália)
e Ivo Müller (João) completam o afinado elenco.
Em fato que já se torna elogiável tradição do CCSP, o programa da peça inclui o texto completo da mesma na ótima tradução de Hugo
Villavicenzio.
A
ida ao Centro Cultural São Paulo vai dar dois grandes prazeres: a visita ao porão
renovado e a apreciação de um ótimo espetáculo.
PEQUENAS
CERTEZAS fica em cartaz de quinta a sábado às 21h e domingo às 20h até 17/12,
devendo retornar ao cartaz em janeiro.
02/12/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário