sábado, 2 de dezembro de 2017

PEQUENAS CERTEZAS

Maria Fanchin e Mariana Leme

CADÊ O MÁRIO?

        No ano de 1989 o estreante Gabriel Villela apresentou dois espetáculos muito bem sucedidos no Centro Cultural São Paulo. O primeiro foi Você Vai Ver o Que Você Vai Ver encenado em um ônibus no foyer e o segundo, Concílio de Amor, foi montado no porão do Centro Cultural. Salvo engano, essa foi a primeira utilização daquele mágico espaço, que depois seria batizado de Espaço Cênico Ademar  Guerra e teve momentos de glória, sendo que uma de suas melhores utilizações foi a montagem em 1994 de A Gaivota dirigida por Francisco Medeiros com belíssima cenografia de J. C. Serroni que recriava alí “um trecho do parque da propriedade de Sorín, irmão de Arkádina” como pede Tchekhov nas rubricas da peça.
        Todo esse preâmbulo é para ressaltar a importância do porão do Centro Cultural São Paulo que ficou fechado por três anos e que agora ressurge reformado e com melhores condições técnicas para abrigar espetáculos teatrais. A arquitetura do local é hipnótica por meio de suas pilastras e paredes. Espaço tão amplo e belo sofre com problemas incontornáveis de acústica que devem ser grande desafio para quem ali apresenta seus trabalhos.


        No dia histórico de 01/12/2017 o porão reabriu suas portas e foi sob forte emoção que o público adentrou aquele espaço para assistir a Pequenas Certezas, seu cartaz da reabertura.
        A ironia da instigante peça da dramaturga mexicana Bárbara Colio já começa no título: a grande sacada é que não há certeza de coisa nenhuma e o espectador sai da peça só com perguntas e suposições. Cadê o Mário?
        A peça mostra várias personagens que se relacionaram com o tal de Mário que certo dia sumiu da vida de todas elas: a namorada Natália, sua mãe – exímia na confecção de bolo de chocolate e fã ardorosa de visitar necrotérios -, os irmãos Sofia e João e, finalmente, Olga, amiga de Natália, que não tem nada a ver com Mário, mas mete o bedelho em todos os assuntos.
        Essa fauna se reúne em Tijuana, residência dos irmãos, na tentativa de responder à pergunta: Cadê o Mário? Momentos hilários mesclam-se com outros dramáticos revelando a habilidade da dramaturga na condução da narrativa com um desfecho extremamente criativo e surpreendente.
        Fernanda D’Umbra soube utilizar muito bem a parte que lhe coube daquele latifúndio, perdão, daquele porão. Auxiliada pela linda iluminação de Aline Santini, D’Umbra faz seus personagens circularem por recantos, escadas e mezaninos preenchendo o espaço cênico de maneira surpreendente. Há singela homenagem a Phedra de Córdoba por meio de foto sua pendurada na parede em certo momento da ação. Ao final do espetáculo, a diretora também fez  emocionada homenagem ao saudoso Sebastião Milaré, grande incentivador de nosso teatro.
        Chris Couto com toda sua tarimba teatral encarrega-se da patética mãe e, junto com a ótima Maria Fanchin, é responsável pelos momentos mais engraçados da peça. Rita Batata (Sofia) revela potente expressão corporal na primeira parte do espetáculo, tendo um momento coreográfico muito bonito no mezanino. Mariana Leme (Natália) e Ivo Müller (João) completam o afinado elenco.
        Em fato que já se torna elogiável tradição do CCSP, o programa da peça inclui o texto completo da mesma na ótima tradução de Hugo Villavicenzio.
        A ida ao Centro Cultural São Paulo vai dar dois grandes prazeres: a visita ao porão renovado e a apreciação de um ótimo espetáculo.
        PEQUENAS CERTEZAS fica em cartaz de quinta a sábado às 21h e domingo às 20h até 17/12, devendo retornar ao cartaz em janeiro.

02/12/2017

         

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