sábado, 14 de novembro de 2020

JACKSONS DO PANDEIRO

 


Barca dos Corações Partidos é um grupo brilhantemente solar, haja vista seus ensolarados Auê (2016, direção de Duda Maia) e Suassuna – O Auto do Reino do Sol (2017, direção de Luiz Carlos Vasconcelos). Seguiu-se a versão sombria de Macunaíma (2019, direção de Bia Lessa) onde, no meu modo de ver, o grupo não estava muito à vontade. Eis que o grupo retorna mais solar do que nunca neste final pandêmico de 2020 de novo sob a batuta de Duda Maia para contar e cantar Jackson do Pandeiro, por enquanto via digital. É, segundo eles, uma “homenagem sincopada” ao compositor paraibano.

Duda Maia é a maga da direção de movimento do teatro brasileiro, suas dinâmicas e criativas coreografias são uma marca registrada facilmente reconhecível e ganham muita vida com os meninos da Barca.

Assistir Jacksons na telinha do computador é um pouco frustrante, mas mesmo assim, absolutamente encantador e delicioso. É espetáculo para se assistir ao vivo, com a plateia vibrando e aplaudindo ao final de cada número, um mais sedutor que o outro, mas enquanto o vírus não permite, vamos nos contentando com a versão on line que, diga-se de passagem, tem seus atrativos particulares: a  linguagem cinematográfica com a câmera dirigindo nosso olhar para detalhes de cada momento (é claro, que às vezes, nossos olhos queriam estar em outra parte da cena, mas a escolha da direção é quase sempre acertada) com bem vindos closes de cada intérprete e até tomadas do alto, mostrando a planta do palco.

A dramaturgia de Bráulio Tavares e Eduardo Rios contempla de forma exemplar momentos da vida do genial Jackson do Pandeiro (1919-1982), mesclando-os com o melhor de sua obra, formada por cocos, baiões, sambas, forrós e até aquela deliciosa mistura Chiclete com Banana que ele chamou de “samba rock” (um dos pontos altos do espetáculo). A direção musical é de Alfredo Del-Penho e Beto Lemos.

O cenário de André Cortez formado por praticáveis com planos inclinados, um telão ao fundo e uma lona de salto retangular é o elemento que Duda Maia usa para criar a estimulante coreografia da montagem, fazendo os atores/cantores/instrumentistas/dançarinos circularem continuamente por ele durante as duas horas do espetáculo. A movimentação é muito variada e sempre muito criativa, havendo até uma de Renato Luciano, literalmente, de cabeça para baixo! 


As sequências diante do telão são lindas, remetendo um pouco ao que Antunes Filho fazia nos anos 1980. A iluminação de Renato Machado torna toda essa beleza mais intensa ainda. Os intermezzos são realizados com luz baixa ficando à vista a movimentação dos atores para a próxima cena. Em um teatro esses momentos serão preenchidos pelos aplausos calorosos do público.

O que dizer de Adrén Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios, Fábio Enriquez, Renato Luciano e Ricca Barros que formam a Barca dos Corações Partidos? Fazem de tudo e um pouco mais em cena, sempre de forma não mais que excelente. A dinâmica da montagem permite que cada um deles tenha seu solo e momento de destaque. Neste espetáculo eles são acompanhados por mais três elementos perfeitamente integrados à dinâmica do grupo. São eles: Everton Coroné (excelente sanfoneiro), Lucas dos Prazeres (interpretando Jackson e fazendo música até com os tamancos) e a deliciosa Luiza Loroza que, entre tantos momentos belos se pode destacar aquele em que ela fala das mulheres da vida do biografado (a mãe Flora Mourão e as companheiras Almira Castilho e Neusa Flores dos Anjos).


Tem sido uma constante nos espetáculos virtuais uma duração de no máximo 50 minutos, pois a concentração do web- espectador é menor do que aquela do espectador que vai ao teatro. Jacksons dura duas horas e eu não arredei o pé da frente do note book por nada. Entre tantos momentos magníficos é difícil fazer destaques, mas não há como não sublinhar “Vixe, como tem Zé na Paraíba”, “Sebastiana”, “Como chegar na casa de alguém que toca pandeiro”, “Aquele é o marido da mulher que virou homem” e o já citado “Chiclete com Banana”.


JACKSONS DO PANDEIRO fica em cartaz até 06 de dezembro, de quinta a domingo às 20h. Temporada gratuita. É só acessar o you tube e procurar pelo grupo e pelo espetáculo.

ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!

14/11/2020

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