segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

MEDEIA de CONSUELO DE CASTRO

 

Consuelo de Castro (1946–2016) foi a caçula da chamada “Geração 1969” que revelou ao final da década de 1960, além de seu nome, aqueles de Antônio Bivar (1939-2020), José Vicente (1945-2007), Isabel Câmara (1940-2006) e Leilah Assumpção (1943-). Consuelo tinha apenas 22 anos quando escreveu Prova de Fogo sua peça de estreia que já foi taxada como PROIBIDA pela famigerada censura da época. Rebelde, feminista e contestadora sua obra é marcada por essas características. Muitos textos de Consuelo ainda permanecem inéditos e é sempre surpreendente quando alguns deles vêm à tona como foi o caso de Uma Lei Chamada Mulher em 2020 e agora de Medeia, uma releitura do original Medeia: Memórias do Mar Aberto de 1997.

A Medeia de Consuelo de Castro baseia-se no mito grego e na tragédia de Eurípedes, escapa porém de certas soluções, para dar ênfase na força da protagonista exaltando seus valores feministas e oferecendo desfecho bastante diverso do original.

A excepcional fotografia em preto e branco de Gabriel Fernandes é responsável pelo impacto visual das primeiras cenas e já mergulha o espectador no clima sufocante do espetáculo. Acertadamente batizado pela Cia.Br116 como teatrofilme, o espetáculo é um exemplo do diálogo entre as duas artes. Os closes e os planos utilizados nos vários diálogos são obra de mestre, remetendo às obras primas de Ingmar Bergman da década de 1950 fotografadas magistralmente em preto e branco por Sven Nykvist e Gunnar Fischer.

A cenografia rústica elaborada por Cássio Brasil colabora para a dureza do espetáculo com momentos memoráveis como aquele em que Medeia retira de uma montanha de carvão o vestido dourado que será envenenado e servido como presente para a futura esposa de Jasão. As cenas externas também são dotadas de rara beleza, apesar de sua aridez.

A trilha sonora de Felipe Antunes e Fábio Sá composta não só de música envolvente, como de sons da natureza e de objetos se atritando dão um toque especial à proposta da encenação. É muito oportuna a canção final interpretada por Tulipa Ruiz.

Bete Coelho assina com Gabriel Fernandes a vigorosa direção do espetáculo.

Um elenco excepcional dá o toque final a este trabalho: Luiza Curvo representa a noiva Glauce em sua insegurança frente à poderosa rival; Matheus Campos, com seu belo porte físico,  desempenha Apsirto o irmão assassinado pela própria Medeia; Flavio Rochaa mostra a dignidade de um Jasão bem mais ponderado do que aquele da tragédia de Eurípedes; Roberto Audio tem estofo para criar o poderoso Creonte (a única coisa que destoa e soa artificial é a sua longa barbicha); em um grande momento dramático Michele Matalon representa com muita dignidade e muita força a Ama que aconselha Medeia e, finalmente, Bete Coelho tem sua maior interpretação dramática, superando até o excepcional trabalho realizado em Mãe Coragem.

O espetáculo, na forma em que foi concebido, tem potência para agradar em cheio tanto o amante de teatro como o cinéfilo. 

A temporada de MEDEIA vai até 12 de março de quarta a sábado às 20h e aos domingos às 18h. Acesso fácil e gratuito pelo Canal da BR116 no YouTube.

ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL 

08/02/2021

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