“São bonitas as
canções” entoa Chico Buarque na linda Choro Bandido, que ele
compôs em parceria com Edu Lobo. Parafraseio Chico ao escrever que “são bonitas
as histórias” que Cristiane Zuan Esteves nos conta para relatar como criou esta
instigante A História de Baker.
Tudo começa nas ilhas
Fiji há alguns séculos quando o missionário Thomas Baker (1832-1867) foi
assassinado e devorado por elementos de uma tribo. Em 2003, descendentes dos
chamados “canibais” realizaram uma cerimônia de desculpas para os
colonizadores. Este fato indignou Cristiane que fez pesquisas a respeito do
nome Baker e colocou em uma pasta intitulada “CANIBAIS” pretendendo fazer um
trabalho sobre. Os anos passaram e a pasta ficou esquecida, até que em 2013 a
dramaturga teve um problema no joelho que foi diagnosticado como Cisto de
Baker. Coincidência ou não, estava aí a razão para retomar a pasta e escrever
sobre todo Baker que lhe aparecesse pela frente (pessoas, lugares ou fatos). O
pano de fundo seria sempre a denúncia da exploração dos colonizados pelos
colonizadores, dos oprimidos pelos opressores, dos devorados pelos devoradores.
O espetáculo
concebido para o palco e revisto para o formato digital é apresentado no melhor
estilo de teatro documentário, expondo os elementos de pesquisa, apresentando
fotos e é todo narrado por Cristiane que também faz as vezes de intérprete. A
narrativa é permeada por frases que provocam um salutar distanciamento,
enquanto se ouve ao fundo a voz de uma criança (a filha da dramaturga).
A peça, concebida por
Cristiane, tem dramaturgia e direção divididas com Beto Matos. Muitos elementos
colaboram para o excelente resultado final: a potente trilha sonora de Pedro
Semeghini, os cenários de Júlio Dojscar, a luz de Grissel Piguellim e a criação
videográfica de Edu Zal que dá um toque importante no visual do espetáculo.
Um momento
particularmente belo é aquele onde são apresentadas cenas de shows da
espetacular Josephine Baker (1906-1975) enquanto Cristiane reproduz parte de um
discurso da artista, onde ela comenta sua revolta e indignação com o
preconceito racial sofrido por ela e pelos negros em geral.
Tratando de temas
penosos e urgentes para os dias sombrios que estamos vivendo, Cristiane e Beto
realizam espetáculo forte e corajoso, mas não menos belo e poético.
A História de Baker vem sendo
apresentada desde 09/07 e fica em cartaz apenas até o próximo fim de semana:
Dias 23, 24 e 25 de
julho. Sexta e sábado às 21h e domingo às 19h no Facebook do Teatro Cacilda
Becker (facebook.com/TeatroCacildaBeckerSP).
NÃO DEIXE DE VER: SÃO
BONITAS AS HISTÓRIAS!!
19/07/2021
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