O conto A Pane
foi escrito em 1956, mesmo ano em que Friedrich Dürrenmatt (1921-1990) escreveu
A Visita da Velha Senhora, sua mais conhecida peça teatral.
Posteriormente o conto foi transformado em obra teatral e é ela que é
apresentada atualmente no Teatro FAAP, em ótima tradução de Diego Viana com
direção de Malú Bazan.
O texto do dramaturgo
suíço escrito há 66 anos, mostra-se atualíssimo neste Brasil onde tomar
consciência dos seus atos é coisa que, salvo exceções, não se usa mais. A
sinopse divulgada no release diz tratar-se “... de uma comédia sobre a justiça. Hóspede inesperado se
transforma em réu de um jogo em que juiz, promotor, advogado e carrasco aposentados
revivem suas profissões”. O jogo aparentemente inocente daqueles velhos
senhores mostra-se poderoso para revelar ao jovem Alfredo Traps seu lado mais
sombrio.
Texto lúcido e bem
escrito; direção criativa, mas sóbria, sem querer brilhar mais que o texto e
elenco impecável só podiam resultar em espetáculo de primeira grandeza.
A cenografia de Anne
Cerutti e Malú Bazan adapta-se criativamente ao palco do Teatro FAAP e às suas
famosas colunas e é enriquecida pela bela iluminação assinada por Wagner Pinto.
Percebe-se na direção
de Malú Bazan que sua encenação pretende contar da maneira mais clara possível
uma boa história e seu objetivo é plenamente atingido, contando com um elenco
excepcionalmente bom, formado por atores de várias gerações.
Antonio Petrin,
Oswaldo Mendes, Roberto Ascar e Heitor Goldflus defendem com vigor e com humor
as personagens, respectivamente, do promotor, do juiz, do advogado de defesa e
do carrasco. Impossível não destacar o momento em que Petrin descreve a maneira
como o chefe do réu morreu, cena merecedora do ator ser aplaudido em cena
aberta.
Na ala dos mais
jovens está Marcelo Ullmann, o garçom que anuncia em francês, qual vinho será
servido na próxima rodada. No original era servido um jantar, mas creio que por
razões econômicas, a produção do espetáculo optou apenas pela bebida. Diga-se,
por sinal, que a apresentação dos vinhos com a posterior degustação pelos
presentes, a princípio engraçadas, torna-se ao longo da peça previsível.
Cesar Baccan tem a
difícil tarefa de defender a personagem de Alfredo Traps, que sofre
transformações à medida que a trama avança e ele ouve as ponderações, nem
sempre justas, dos velhos advogados. Baccan incorpora com muito talento nas suas
expressões facial e corporal essas transformações pelas quais a personagem passa.
Quanto à definição dada na sinopse que se trata “de uma comédia sobre a justiça” é muito importante refletir sobre qual “justiça” ela está se referindo.
14/02/2022
A PANE está em cartaz
no Teatro FAAP só até 20/02 com sessões às sextas às 21h, aos sábados às 20h e
aos domingos às 18h.
Ingressos de R$60,00
a R$80,00.
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