segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

A PANE

 

O conto A Pane foi escrito em 1956, mesmo ano em que Friedrich Dürrenmatt (1921-1990) escreveu A Visita da Velha Senhora, sua mais conhecida peça teatral. Posteriormente o conto foi transformado em obra teatral e é ela que é apresentada atualmente no Teatro FAAP, em ótima tradução de Diego Viana com direção de Malú Bazan.

O texto do dramaturgo suíço escrito há 66 anos, mostra-se atualíssimo neste Brasil onde tomar consciência dos seus atos é coisa que, salvo exceções, não se usa mais. A sinopse divulgada no release diz tratar-se “... de uma comédia sobre a justiça. Hóspede inesperado se transforma em réu de um jogo em que juiz, promotor, advogado e carrasco aposentados revivem suas profissões”. O jogo aparentemente inocente daqueles velhos senhores mostra-se poderoso para revelar ao jovem Alfredo Traps seu lado mais sombrio.

Texto lúcido e bem escrito; direção criativa, mas sóbria, sem querer brilhar mais que o texto e elenco impecável só podiam resultar em espetáculo de primeira grandeza.

A cenografia de Anne Cerutti e Malú Bazan adapta-se criativamente ao palco do Teatro FAAP e às suas famosas colunas e é enriquecida pela bela iluminação assinada por Wagner Pinto.

Percebe-se na direção de Malú Bazan que sua encenação pretende contar da maneira mais clara possível uma boa história e seu objetivo é plenamente atingido, contando com um elenco excepcionalmente bom, formado por atores de várias gerações.

Antonio Petrin, Oswaldo Mendes, Roberto Ascar e Heitor Goldflus defendem com vigor e com humor as personagens, respectivamente, do promotor, do juiz, do advogado de defesa e do carrasco. Impossível não destacar o momento em que Petrin descreve a maneira como o chefe do réu morreu, cena merecedora do ator ser aplaudido em cena aberta.

Na ala dos mais jovens está Marcelo Ullmann, o garçom que anuncia em francês, qual vinho será servido na próxima rodada. No original era servido um jantar, mas creio que por razões econômicas, a produção do espetáculo optou apenas pela bebida. Diga-se, por sinal, que a apresentação dos vinhos com a posterior degustação pelos presentes, a princípio engraçadas, torna-se ao longo da peça previsível.

Cesar Baccan tem a difícil tarefa de defender a personagem de Alfredo Traps, que sofre transformações à medida que a trama avança e ele ouve as ponderações, nem sempre justas, dos velhos advogados. Baccan incorpora com muito talento nas suas expressões facial e corporal essas transformações pelas quais a personagem passa.

Quanto à definição dada na sinopse que se trata “de uma comédia sobre a justiça” é muito importante refletir sobre qual “justiça” ela está se referindo. 

14/02/2022

A PANE está em cartaz no Teatro FAAP só até 20/02 com sessões às sextas às 21h, aos sábados às 20h e aos domingos às 18h.

Ingressos de R$60,00 a R$80,00.

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