Dercy Gonçalves
(1907-2008) merecia este espetáculo!
Eu ia escrever que
ela merecia esta homenagem, mas tenho certeza que ela retrucaria dizendo “Eu
não quero essa merda de homenagem, homenagem é pra gente morta!!”. E Dercy
será eterna, enquanto for lembrada por todos aquele que riram ou ainda riem com
ela!
Ignorada durante
grande parte de sua carreira pela crítica, terminou sua vida endeusada pelos
mesmos intelectuais que anteriormente a evitaram. Dercy não estava nem aí para
isso e mandou à merda tudo o que poderia lhe ofuscar a vida (na peça, ela cita
essa atitude como um dos remédios para sua saúde e longevidade).
No espetáculo, uma
atriz participa de teste para a escolha de intérprete para o papel de Dercy em
um filme. Grande fã de Dercy, a atriz contesta o roteiro que lhe pedem para
fazer e aos poucos vai incorporando aquilo que ela acredita que Dercy diria.
Essa cena inicial é bastante criativa e conta com a participação da voz de
Miguel Falabella como o entrevistador. A partir daí, o autor Kiko Rieser
costura muito bem falas e atitudes de Dercy aparecidas em entrevistas ou ditas
pela atriz em programas de TV ou em suas apresentações.
Kiko Rieser vem se
firmando no cenário teatral paulistano como autor, diretor e produtor e este,
sem sombra de dúvida, é seu trabalho mais maduro e melhor realizado. Para tanto
cercou-se de profissionais talentosíssimos como Kleber Montanheiro (cenário e
figurinos), Aline Santini (desenho de luz), Mau Machado (trilha sonora), Eliseu
Cabral (visagismo) e Bruna Longo (preparação corporal).
Grace Gianoukas
realiza belíssimo trabalho tanto como a atriz Vera, como quando incorpora a voz
e o gestual de Dercy (para tanto lhe basta colocar a peruca loira, tão
característica de Dercy). Interpretação digna de ser lembrada quando se fizerem
as listas dos melhores do ano. Interrompida várias vezes pelas exageradas e
contínuas palmas da claque sempre presente em pré estreias, tenho certeza que
em apresentações normais o rendimento de Grace crescerá bastante. Não que a
atriz não mereça aplausos por seu magnífico trabalho, mas o excesso é sempre
danoso para qualquer fato.
Ri-se muito durante
todo o espetáculo, mas a emoção também aflora em vários momentos, pois Kiko e
Grace conseguiram nos mostrar não só o lado histriônico, mas também o lado
humano da grande vedete e mulher que foi Dercy Gonçalves.
A memória do teatro brasileiro agradece.
NASCI PRA SER DERCY
está em cartaz no Teatro Itália às sextas e sábados às 21h e aos domingos às
19h até 26/02.
NÃO PERCA!!
13/01/2023
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