Como são frágeis as
democracias latino-americanas!
Na manhã deste
domingo eu relembrava muito triste o 11 de setembro de 50 anos atrás, quando um
sangrento golpe militar derrubou o governo de Salvador Allende no Chile. Naquela
época, a maior parte dos países latino americanos vivia debaixo de ditaduras e
o governo de Allende representava uma luz de esperança para todos nós que
vivíamos abaixo do equador. Mais triste fiquei ao ler uma reportagem mostrando
o crescimento de grupos de ultra direita no Chile que reivindicam a volta de um
governo conservador e totalitário e relembrar que também nós no Brasil, após
ter sofrido com a ditadura civil-militar tivemos que engolir por quatro anos
aquele ser ignóbil que foi eleito pelo povo!!
Foi movido a esse
sentimento que me dirigi mais tarde ao SESC Belenzinho para assistir ao
novo espetáculo da Companhia De Teatro Heliópolis e a emoção
reprimida transbordou em lágrimas durante e após o espetáculo.
Desde Sutil
Violento, a performatividade era uma tendência crescente nos trabalhos da
companhia e desta vez o encenador Miguel Rocha radicalizou, criando um
espetáculo quase sem palavras; elas aparecem aqui e acolá em falas gravadas e
nas letras das canções entoadas, permeando as cenas onde os corpos mudos dizem
mais do que elas; credite-se isso à excelente direção de movimento de Érika
Moura.
Uma potente trilha
sonora de Peri Pane e Otávio Ortega mescla trechos gravados com música ao vivo
executada por Alisson Amador e Jennifer Cardoso, além de canções interpretadas
em coro pelo elenco.
O chão que serve de
túmulo também é aquele que fará crescer a vida e as plantas, essa é a primeira
mensagem poderosa do espetáculo que inicia com um canto afro interpretado por
Dalma Régia. Louve-se a cenografia de Eliseu Weidl, banhada lindamente pelas luzes
de Guilherme Bonfanti. Completa a beleza visual da montagem os vídeos cuja
edição é assinada por Gabriel Faustino.
Como se pode notar,
Miguel Rocha mais uma vez harmoniza forma e conteúdo de maneira exemplar.
O espetáculo faz um
dolorido passeio pela violência que sempre esteve presente na história desta
terra desde quando os portugueses por aqui chegaram e a batizaram de Brasil
culminando com a pandemia da Covid 19 que impulsionada pela negligência do
governo do ignóbil vitimou mais de 600.000 pessoas.
Haja coração para
suportar as cenas da violência com os escravos, das torturas sofridas pelos
opositores do regime militar e da descrição de como eram algumas das vítimas da
Covid 19, cena esta que encerra o espetáculo de maneira comovente.
O excelente elenco
formado por Dalma Régia (poderosa como sempre!), Davi Guimarães, Walmir Bess,
Fernanda Faran, Alex Mendes e Anderson Sales se incumbe das várias figuras que
surgem durante o espetáculo. Por questões burocráticas, a menina Isabelle Rocha
(filha de Dalma e de Miguel) não faz parte do espetáculo durante a temporada no
SESC Belenzinho, mas fará quando o mesmo se transferir para a sede do grupo na Casa
Mariajosé de Carvalho no mês de outubro.
Com o coração apertado e lágrimas nos olhos dei um abraço no Miguel Rocha ao final da peça, enfatizando que para mim este é seu melhor trabalho.
QUANDO O DISCURSO
AUTORIZA A BARBÁRIE está em cartaz no SESC Belenzinho até 01/10 às sextas e
sábados às 20h e aos domingos às 17h
ABSOLUTAMENTE
NECESSÁRIO e IMPERDÍVEL.
LEMBRAR É RESISTIR!
10/09/2023
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