Foto de Anderson Dias
Admiro o trabalho de Duda Maia desde
2016 quando assisti Auê com aquela incrível direção de movimentos dos
rapazes da Barca dos Corações Partidos; tempos depois, em 2019, me
encantei com O Mágico de Ó, escrito e interpretado pelo jovem Vitor
Rocha. O encontro dos dois para a realização de Mundaréu de Mim, só deve
ter resultado em algo surpreendente.
Duda Maia
A ideia de Mundaréu de Mim surgiu
quando Vitor foi procurado, via o Instituto Brasileiro de Teatro (IBT), pela
plataforma de serviços financeiros Rico que queria patrocinar um musical
gratuito, acessível a todos os públicos, ao ar livre e que tratasse de
brasilidade.
Jogada a ideia, Vitor começou a
trabalhar no texto e a vislumbrar que espetáculo resultaria do mesmo. Nesse “vislumbramento”
lhe surgiu a ideia de chamar Duda Maia, cujo trabalho ele também havia admirado
desde as apresentações de Auê aqui em São Paulo.
Duda tem método todo próprio de
preparar o elenco, desde a escolha do mesmo, o que resulta em processo mais
longo do que o usual.
Cerca de 400 pessoas, se candidataram
a intérpretes de Mundaréu de Mim, dos quais foram selecionados 80,
através da análise de vídeos enviados. Esses 80, divididos em quatro grupos de
20, participaram de oficina ministrada por Duda e por Gui Leal, compositor e
preparador vocal do espetáculo. Duda e Gui foram direcionando os trabalhos
durante quatro dias até chegar aos 18 artistas necessários para contar a
história criada por Vitor. Todo esse processo mais humano e mais amoroso
substitui as costumeiras frias audições, mas com certeza demanda tempo muito
maior. Além dos 15 selecionados, estão no elenco Juliana Linhares, atriz e
cantora indicada por Duda e os idealizadores do projeto,Vitor Rocha e Luiza
Porto.
Da escolha dos intérpretes à definição
de quem faz o que, também se percorre um longo caminho que vai desde a
preparação do elenco a partir do cenário (algo fundamental nas montagens de
Duda) até o trabalho com o texto, que no método de Duda é a última parte do
processo.
A peça mostra o encontro, em uma festa
de Carnaval, da menina Graciela com José, um homem simpático e engraçado que já
“virou saudade”. Aurora, a mãe de Graciela, preocupada, vai atrás da menina que
saiu de casa escondida. Esse trio de protagonistas é interpretado por Sara
Chaves (Graciela), Cainã Naira (aurora) e Flávio Pacato (José), escolhidos por
meio do processo indicado acima. O restante do elenco interpreta dezenas de
personagens que povoam a trama e até flores e ingressos, ideias de Duda que
Vitor foi incorporando no texto durante os ensaios: “Eu provoquei o Vitor para
transformar objetos em gente”, sentencia Duda.
Todo musical que se preza necessita de
gente gabaritada e de talento para realizá-lo e neste caso houve, segundo Duda,
“um belo quarteto pra música acontecer”. São eles, o já citado Gui Leal,
Josyara que faz a direção musical, Juliana Linhares como diretora musical
assistente e, nada mais nada menos, que Beto Lemos, importante integrante da Barca
dos Corações Partidos, como arranjador. As músicas compostas por Gui Leal
têm letras de Vitor Rocha. A banda que também está em cena é composta por nove
músicos.
A equipe criativa envolve ainda Ágata
Matos como assistente de direção, André Magalhães no desenho de som
(fundamental para espetáculo dessa dimensão e ao ar livre), Danielle Meireles
na iluminação (os efeitos de luz devem ser muito interessantes pois a ação se
passa do entardecer ao alvorecer do dia seguinte), Elias Kaleb na criação dos
figurinos.
E, propositalmente por último, para
dar o destaque devido, Anderson Dias, o cenógrafo criador da estrutura gigantesca
de 22 metros de comprimento no Parque da Água Branca que lembra um parque de
diversões. Nessa estrutura construída com ferro, madeira e cordas os atores
cantam, dançam e interagem com redes, rampas, escorregadores e escadas, além de
subirem em uma torre de sete metros de altura, tudo para satisfazer às
mirabolantes coreografias que são a marca registrada de Duda Maia. Segundo
Anderson, Duda dá vida à cenografia.
Maquete - Foto de Vinicius Silva
Duda dando vida ao cenário - Foto de Anderson Dias
A direção geral do evento é de Oliver
Tibeau (do IBT), Vitor Rocha e Luiza Porto.
Mundaréu de Mim, com certeza será um dos grandes
acontecimentos da temporada paulistana, criando, por um lado, maior
visibilidade ao trabalho de Vitor Rocha, esse jovem de 26 anos, que ainda vai
contribuir bastante para o teatro brasileiro e trazendo, por outro lado, Duda
Maia para uma produção paulista (todos os importantes trabalhos que já vimos de
Duda, vieram do Rio de Janeiro). Duda tem bastante interesse de semear raízes
no solo paulistano e isso só nos trará benefícios, portanto, convites serão
muito bem-vindos por parte dessa talentosa artista.
Apesar da imensa estrutura envolvida, Mundaréu
de Mim cumprirá apenas 18 apresentações no Parque da Água Branca, de 06 a
29 de outubro, com sessões às sextas e sábados às 18h e aos domingos e no
feriado do dia 12/10 às 15h e às 18h.
Duração: 75 minutos
Ingressos gratuitos mediante
disponibilidade de lugar
Capacidade por sessão: 3.000 pessoas
Parque da Água Branca / Av. Francisco
Matarazzo, 465
Esta matéria teve como base as
entrevistas com Duda Maia, Anderson Dias e Vitor Rocha e o release do
espetáculo.
03/10/2023