UM BONDE CHAMADO TALENTO
Tenho especial carinho
e admiração por esse grupo de jovens “negros e periféricos” como se definem os
integrantes d’O Bonde. Sua trajetória iniciada em 2017, começou a marcar
presença em nossos palcos com o infantil Quando Eu Morrer Vou Contar Tudo a
Deus, seguiu entrando em nossos notebooks com a premiada peça-filme Desfazenda-
Me Enterrem Fora Desse Lugar, que após a pandemia estreou nos palcos
da cidade e agora completam o que eles chamam de Trilogia da Morte
tratando da velhice em Bom Dia Eternidade.
O bonito dessa Trilogia
da Morte, que denuncia como são (mal) tratados na nossa sociedade os corpos
negros na infância, na vida adulta e na velhice é que ela o faz com muita
poesia e com a visão de uma utopia possível, mas ainda não realizada. É uma
trilogia da morte que exalta a vida.
A peça inicia com um
verdadeiro show com lendários músicos Cacau Batera (80 anos), Luiz Alfredo
Xavier (85 anos), Maria Inês (73 anos) e Roberto Mendes Barbosa (60 anos)
acompanhados com a presença iluminada dos quatro integrantes d’O Bonde: Ailton
Barros, Filipe Celestino, Jhonny Salaberg e Marina Esteves. Esse momento
brilhante e alegre que contagia o público, é o início/fim do espetáculo.
A seguir desfilam
perante os espectadores os relatos gravados dos quatro idosos do elenco,
permeados por lembranças dos jovens, que aos poucos vão se amalgamando criando
um todo, onde cada jovem é o espelho de um idoso. A narrativa não linear é
muito bem amarrada na dramaturgia assinada por Johnny Salaberg.
Em certos momentos,
os relatos dos idosos são tão potentes e emocionantes, que chegam a ofuscar a
cena ao vivo que acontece em seguida. Por sinal, para este espectador, algumas
cenas ao vivo são muito longas, merecendo um corte que reduziriam beneficamente
o espetáculo em uns vinte minutos.
Luiz Fernando
Marques, nosso querido Lubi, assina direção, cenografia (que belas cortinas!) e
figurinos do espetáculo da forma lúdica como é a proposta do grupo, auxiliado
pela excelente direção musical de Fernando Alabê, pela precisa videografia concebida
e operada por Gabriela Miranda e pela luz de Matheus Brant.
Bom Dia Eternidade é um trabalho que
atinge profundamente corações e mentes dos espectadores, fazendo-os refletir
sobre a situação da velhice (não só dos negros) e se emocionar com os belos
momentos poéticos e com as músicas.
Voltar naquele
quintal e sentir novamente o batuque dos quatro tamborins tocados por Marina,
Johnny, Ailton e Filipe ao som da contagiante música é o desejo de todo
espectador, que aplaude entusiasticamente o elenco no final da peça.
BOM DIA ETERNIDADE
está em cartaz no Teatro Anchieta até 25/02 às sextas e aos sábados às 20h e
aos domingos e feriados às 18h. Sessões extras nos dias 15 e 22/2 às 15h.
NÃO PERCA!!
21/01/2024
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