Uma história simples e corriqueira: um
pai e um filho se encontram após 20 anos de separação e após início cordial
começam a trocar farpas sobre fatos do passado e a balancear o que é paixão e o
que é trocar essa paixão por dinheiro.
A
paixão do pai é pelos vinhos e ele armazena o seu tesouro em uma imensa adega
(qualquer semelhança com meu acervo de programas é mera coincidência, além
disso o homem tem 80 anos e usa uma bengala!). O filho volta da Australia com a
intenção de comercializar parte dos vinhos raros e caríssimos da adega do pai.
O conflito está armado e por meio de diálogos ágeis e ações bem estruturadas a
bela e criativa dramaturgia da saudosa Jandira Martini (a quem a encenação é
dedicada) e Maurício Guilherme é apresentada ao público.
Elias
Andreato faz uma tradução cênica limpa focando a sua atenção no trabalho dos
atores que são realmente as maiores atrações da peça. Vale-se do criativo
cenário de Rebeca Oliveira que reproduz uma adega com todas as garrafas
expostas em posição horizontal e uma trilha sonora com trechos do belíssimo
álbum Dark Side of the Moon, do Pink Floyd. Essas músicas não têm
muito a ver com o tema da peça, mas funcionam muito bem para criar o ambiente da
encenação.
Caio
Blat representa com muita desenvoltura o filho irrequieto que volta depois de
um longo exílio na Australia para saber como estão as finanças do pai na
tentativa de realizar seu sonho de fazer cinema. A venda de títulos raros da
coleção do pai poderia ser uma das soluções. O ator reage com muita
naturalidade às falas do pai e coleciona mais um sucesso em sua carreira.
Herson
Capri é o debilitado e desiludido pai. Colecionou fracassos e perdas na vida e
tem um segredo desabonador que só será revelado perto do final da peça. As
nuances da personagem são muito bem exploradas pelo ator, que forma uma
excelente dupla com Blat.
A
encenação de Elias Andreato tem a elegância e o toque de um bom vinho; essa
sensação somada à química entre os atores e ao emocionante brinde ao final da peça resultam em uma dose de imenso prazer
para o espectador que sai do teatro com a alma alimentada.
Você
não precisa ser apreciador de vinho para gostar do espetáculo, mas se o for
saberá curti-lo melhor.
MEMÓRIAS
DO VINHO está em cartaz no Teatro Vivo às sextas e aos sábados às 20h e aos
domingos às 18h até 15vdec setembro.
Pode curtir e saborear SEM moderação.
05/08/2024
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