Essa Medeia contemporânea criada por Marcelo Lazzaratto é MdEa, uma mulher sofrida e rejeitada pelo seu companheiro (Se você não me queria/não devia me procurar/não devia me iludir/nem deixar eu me apaixonar) com o qual teve dois filhos.
Com sua imensa dor, debruçada na mureta de uma ponte ela tenta, sem sucesso, esquecer desse homem que a rejeitou (Evitar a dor é impossível/evitar esse amor é muito mais/você arruinou a minha vida) e então se vale do mito de Medeia para dar vazão à sua ira. Suas mãos estão cobertas de sangue. Terá já cometido o infanticídio nos moldes do mito? Em cena, ao contrário de seu arquétipo, ela não age, mas só articula ações talvez nunca realizadas.
Essa personagem angustiada e introspectiva é interpretada com muita contenção por Carolina Fabri. Poucos gestos, quase nenhuma movimentação facial e alteração de voz e ao mesmo tempo quanta emoção provocada em quem assiste.
O monólogo de Carolina soma-se às grandes interpretações femininas do ano.
A música de Monsueto (Me Deixa Em Paz) serve como uma luva para o tema da peça com a importante exclusão do “Ora vá mulher, me deixa em paz” dita pelo homem, que dava uma conotação machista à canção. Essa exclusão Milton Nascimento já havia feito na sua versão presente no álbum Clube da Esquina, com uma interpretação antológica de Alaíde Costa, que é aquela presente no espetáculo.
E por falar em canção é digna de nota a trilha sonora do espetáculo, assim como a sensível iluminação assinada pelo autor/diretor que pontua e separa os 21 passos que MdEa deve dar até decidir não se jogar da ponte, descer da mesma e talvez encontrar um novo caminho para sua existência.
Assim o Espaço Elevador fecha com chave de ouro seu trajeto de vinte anos, tendo sido cenário de excelentes espetáculos nos quais, Marcelo e Carol, de uma maneira ou de outra, sempre estiveram presentes.
A peça fica em cartaz até a próxima semana (15/12) com sessões às sextas às 20h e aos sábados e aos domingos às 19h.
08/12/2024
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