Elas queriam
livrar-se do pesadelo
da guerra que na acabava mais
e algum dia chegar
a uma terra de paz.
(Cruzada das Crianças - Bertolt Brecht)
Essa foto de dez anos atrás de uma
criança morta em uma praia da Turquia chocou o mundo e fez muita gente pensar
que esse fato poderia mudar as cruéis políticas de imigração administradas por
aqueles que se acham donos das fronteiras. Depois de uma década pode-se
constatar que nada mudou ou até piorou.
As três crianças mostradas em “Juego
de Niños” de Newton Moreno foram jogadas pelo muro por seus pais para o lado
norte americano, pensando em um futuro melhor para elas, mas seus destinos
foram as prisões que infestam a região próxima à fronteira.
Nessas prisões elas mofam à espera de
uma adoção ou com a esperança remota de reencontrarem seus pais.
Na peça de Moreno elas respondem pelo
nome dos países de onde vieram e são interpretadas por três adultos da terceira
idade: México, menino de oito anos (Genézio de Barros); Honduras, menina de
onze anos (Vera Mancini) e Nicarágua, menino de traze anos (Luiz Guilherme).
Engaioladas em um cubículo elas se
distraem brincando com jogos infantis enquanto aguardam alguma porta da
esperança se abrir, o menino de oito anos ainda espera reencontrar o pai,
enquanto o mais velho não crê em finais milagrosos para eles, a menina se
equilibra entre os sentimentos dos dois meninos.
Em um texto enxuto e preciso de 55
minutos Moreno expõe, com a poética e a delicadeza que lhe são peculiares, a
crueldade de um sistema perverso que não isenta nem as crianças de suas garras.
O cenário de Eliseu Weide formado por
grades que se deslocam é funcional e produz efeito bastante interessante. A
iluminação sempre precisa de Caetano Vilela reforça o ambiente opressivo e
claustrofóbico da prisão onde se passa a trama.
O maior mérito do espetáculo está na
interpretação do elenco, que em momento algum usa de recursos “nhem, nhem,
nhem” para mostrar que são crianças. Os figurinos (de Lara Morgana), alguns
adereços (a boneca, o sorvete) e no máximo uma chupada de dedo são suficientes
para o público sentir que está assistindo a crianças, envelhecidas pela
tristeza do abandono. A preparação corporal assinada por Lu Grimaldi é fator
importante para esse resultado.
Aplausos para Genézio, Vera e Luiz
Guilherme.
Bernardo Bibancos é um jovem diretor
que sabe o que faz, harmonizando todas essas funções teatrais com resultado
surpreendente. Entusiasma assistir a um trabalho que, realizado com pequenos
recursos, obtenha tão grande resultado.
JUEGO DE NIÑOS cumpriu pequena
temporada no Itaú Cultural, mas reestreia no Teatro Estúdio de 18/11 a 09/12 às
segundas e terças às 20h.
IMPORTANTE/NECESSÁRIO/IMPERDÍVEL!
16/11/2025


Nenhum comentário:
Postar um comentário