domingo, 16 de novembro de 2025

JUEGO DE NIÑOS

 

 

Elas queriam livrar-se do pesadelo

            da guerra que na acabava mais

                   e algum dia chegar

                   a uma terra de paz.

(Cruzada das Crianças - Bertolt Brecht) 

Essa foto de dez anos atrás de uma criança morta em uma praia da Turquia chocou o mundo e fez muita gente pensar que esse fato poderia mudar as cruéis políticas de imigração administradas por aqueles que se acham donos das fronteiras. Depois de uma década pode-se constatar que nada mudou ou até piorou.

As três crianças mostradas em “Juego de Niños” de Newton Moreno foram jogadas pelo muro por seus pais para o lado norte americano, pensando em um futuro melhor para elas, mas seus destinos foram as prisões que infestam a região próxima à fronteira.

Nessas prisões elas mofam à espera de uma adoção ou com a esperança remota de reencontrarem seus pais.

Na peça de Moreno elas respondem pelo nome dos países de onde vieram e são interpretadas por três adultos da terceira idade: México, menino de oito anos (Genézio de Barros); Honduras, menina de onze anos (Vera Mancini) e Nicarágua, menino de traze anos (Luiz Guilherme).

Engaioladas em um cubículo elas se distraem brincando com jogos infantis enquanto aguardam alguma porta da esperança se abrir, o menino de oito anos ainda espera reencontrar o pai, enquanto o mais velho não crê em finais milagrosos para eles, a menina se equilibra entre os sentimentos dos dois meninos.

Em um texto enxuto e preciso de 55 minutos Moreno expõe, com a poética e a delicadeza que lhe são peculiares, a crueldade de um sistema perverso que não isenta nem as crianças de suas garras.

O cenário de Eliseu Weide formado por grades que se deslocam é funcional e produz efeito bastante interessante. A iluminação sempre precisa de Caetano Vilela reforça o ambiente opressivo e claustrofóbico da prisão onde se passa a trama.

O maior mérito do espetáculo está na interpretação do elenco, que em momento algum usa de recursos “nhem, nhem, nhem” para mostrar que são crianças. Os figurinos (de Lara Morgana), alguns adereços (a boneca, o sorvete) e no máximo uma chupada de dedo são suficientes para o público sentir que está assistindo a crianças, envelhecidas pela tristeza do abandono. A preparação corporal assinada por Lu Grimaldi é fator importante para esse resultado.

Aplausos para Genézio, Vera e Luiz Guilherme.

Bernardo Bibancos é um jovem diretor que sabe o que faz, harmonizando todas essas funções teatrais com resultado surpreendente. Entusiasma assistir a um trabalho que, realizado com pequenos recursos, obtenha tão grande resultado.

JUEGO DE NIÑOS cumpriu pequena temporada no Itaú Cultural, mas reestreia no Teatro Estúdio de 18/11 a 09/12 às segundas e terças às 20h.

IMPORTANTE/NECESSÁRIO/IMPERDÍVEL!

16/11/2025

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