À procura de um lugar.
Por razões diversas sempre ligadas à carência de
necessidades básicas o migrante resolve abandonar seu lugar de origem,
normalmente no caso do Brasil, situado em zonas rurais do Nordeste. Viaja em
condições sub-humanas para as grandes cidades, onde é hostilizado pelos seus
próprios pares que o consideram um concorrente (Mais um Zé?) e reprimido pelas
autoridades tanto policiais como aquelas do assim chamado serviço social;
alguns podem ter a chance de ser recebido por algum parente ou amigo que também
vive em condições precárias. Arranja um subemprego, vai morar numa favela,
passa pela tentação das drogas e da facilidade de ganhar dinheiro de forma
ilícita, é despejado da favela e se tiver sorte vai viver num desses prédios
desumanos e impessoais; com pouco menos de sorte se desloca para outra favela
cada vez mais periférica ou ainda, volta para o centro da cidade para
morar...na rua. De uma maneira ou de outra vai vivendo sua vida que nunca deixa
de ser miserável, além de sentir uma grande melancolia por nunca ter podido
voltar a rever os parentes e o torrão natal.
Edson Paulo, Lu Coelho, Adailton Alves
Lu Coelho, Selma Pavanelli
Heber Humberto: "Nem me fale!"
Caixa/Mala/Camarim
O espetáculo Ser Tão
Ser do grupo Buraco D’Oráculo dá
conta dessa trajetória num conciso e bonito trabalho com uma hora de duração,
perfeito para manter atento o público de uma peça de rua. Baseado em relatos de
moradores da zona leste de São Paulo, o grupo criou coletivamente o espetáculo,
que é dirigido por Adailton Alves. Tudo é mostrado com muita garra pelos cinco
atores (com suas significativas e belas caixas/malas/camarins ambulantes) de
maneira lúdica e econômica (o espetáculo não tem pontos mortos).
Taiguara, o injustiçado cantor brasileiro, dizia em uma de
suas canções que “só não sofreu quem não viu, não entendeu quem não quis”, o
militante Buraco D’Oráculo termina
seu espetáculo repetindo o refrão: “Se o povo soubesse o valor que tem/Não
aguentava desaforo de ninguém". Ficam algumas perguntas que, absolutamente, não
invalidam trabalhos como esse: quanto que ele vai contribuir para dar um final
mais honroso para a saga descrita acima? Moradores de rua e público da
periferia absorvem o recado dado? Se absorverem, o que vão fazer com ele? Não é mole não, Seu Brecht!
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