Uma senhora simpática acolhe o público em sua sala de jantar
no dia do aniversário do patriarca da família. Somos convidados a sentar nas
cadeiras encostadas nas paredes laterais e abajures ao lado das cadeiras
iluminam suavemente o ambiente. Ao fundo um piano encravado numa profusão de
vidros e de lâmpadas acesas.
O casal Maria e Lourival; sua enteada Tereza, filha de uma
prima de Maria que morreu; a suave e desmemoriada prima Dalila e o empregado
Cícero estão reunidos conosco para comemorar os 80 anos do Vô Joaquim. De
repente chega Ana, filha do casal, que os havia abandonado há algum tempo. Sua
chegada desestabiliza o ambiente, mas aos poucos os ânimos vão voltando e a
família rememora momentos do passado, onde talvez eles tenham sido mais
felizes. Tudo isso em total comunhão com o público fazendo-nos cúmplices de
suas lembranças e compartilhando bebidas e guloseimas da festa. O final da festa tem gosto amargo, por qual razão, não cabe contar aqui.
Não há nenhuma indicação, mas tudo parece se passar num
ambiente não urbano e distante de qualquer vizinhança. Apesar do programa e a
sinopse da peça comentarem que a peça trata do universo de Manoel de Barros
relacionado à linguagem de Beckett, os silêncios e as situações criadas me
remeteram ao mundo das tristes, solitárias e sem perspectivas personagens de
Tchekhov; mas tudo isso não importa: esse é o universo dos irmãos Guimarães que
realizaram um belíssimo e sensível espetáculo e que tem a sua marca registrada
Os atores (todos ótimos) atuam de forma muito natural e ao
longo da peça parece que se tornaram nossos amigos íntimos. Ao final da festa,
quando eles se retiram, nos deixam com uma sensação de abandono e solidão. O
silêncio do público é o melhor aplauso para esse que é mais um dos bons
espetáculos estreados no segundo semestre.
Nada, Uma Peça Para
Manoel de Barros está em cartaz no Sesc Belenzinho de quinta a sábado às 21h30 e aos domingos às
18h30, até 06 de outubro. São poucos lugares, corra para garantir o seu.
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