A arte é necessária? O teatro é necessário? Como seria um
ser humano que nunca ouviu uma música e jamais presenciou uma manifestação que
não fosse aquela oferecida pela vida real? Os homens antigos foram buscar a
arte primeiramente na natureza (o canto dos pássaros, o ruído dos ventos) e
depois nos rituais, os quais acabaram dando origem ao teatro. A indústria
cultural com sua busca incessante por retorno financeiro banalizou a arte e
muita coisa hoje curtida e absorvida pela maioria é puro lixo cultural (haja
vista a baixa qualidade da música popular cantada nos quatro cantos do mundo,
os programas televisivos que tem o limite do mau gosto em coisas como o Big Brother e a vulgaridade da maioria
dos espetáculos teatrais que se intitulam “comédias comerciais”). Mas resistir
é preciso e o pobre enjeitado (o teatro foi assim chamado por Oswald de
Andrade) é um dos baluartes dessa resistência. Em meio a um deserto de bobagens
(em artigo anterior, fiz relação de títulos de peças em cartaz que per si
revelam a que vieram) ainda é possível encontrar o teatro combatente, o teatro
arte, tanto nas produções dos coletivos como naquelas realizadas por grupos que
se formam para um determinado espetáculo.
Neste último caso insere-se A Arte da Comédia espetáculo vindo do Rio de Janeiro em cartaz no
Sesc Santana. Por meio do ardiloso texto do italiano Eduardo De Filippo (1900-1984),
autor da famosa peça Filomena Marturano
(último trabalho da saudosa Yara Amaral, também no Rio de Janeiro), a função e
a necessidade do teatro são discutidas de maneira lúdica e muito engraçada. A
encenação de Sergio Módena concentra sua atenção no trabalho de atores (são 12
em cena!) com um resultado homogêneo e de alta qualidade.
Eduardo De Filippo
A peça trata do tema por meio do embate entre um homem de
teatro (o dono de uma companhia) e um burocrata (o novo prefeito de uma pequena
cidade). Há um belo prólogo onde o homem de teatro, ainda na rua, discorre
sobre o universo do teatro. Na primeira parte os dois discutem sobre a
importância do teatro e na segunda entram em cena os visitantes (eles mesmos ou
atores os representando?) criando-se uma pandega confusão que culmina com a
chegada dos guardas que devem elucidar quem é quem. Mas serão eles
verdadeiramente guardas ou atores interpretando guardas? A realidade, onde está
a realidade?
Apesar de homogêneo cabe destacar do elenco os nomes de
Ricardo Blat (excelente como o homem de teatro), de Thelmo Fernandes como o
prefeito e do ótimo ator que interpreta o médico Quinto Basetti que tem tempo
de comédia perfeito (creio que seu nome é Alcemar Vieira – o programa não
indica a relação entre ator e personagem).
A título de informação cabe notar que essa peça foi montada
aqui em São Paulo no ano de 1999 pela Companhia Razões Inversas dirigida por
Marcio Aurélio (que é o tradutor do texto), tendo Walter Breda como o homem de
teatro e Marcelo Lazzaratto como o prefeito. Os “Fofos” Newton Moreno, Fernando
Neves e Marcelo Andrade faziam parte do elenco. Apesar de bastante elogiada a
peça cumpriu uma curta temporada num teatro distante do circuito teatral (a
sala pequena do Teatro Alfa).
A Arte da Comédia
abre auspiciosamente a temporada teatral paulistana continuando uma tendência do
ano de 2013 de espetáculos que discutem o fazer teatral. Pura delícia que não
pode deixar de ser assistida por todos aqueles que acreditam e amam o teatro. A
peça fica em cartaz até 23 de fevereiro no Sesc Santana às sextas e sábados às
21h e domingos às 18h.
Boa, Cetra. Pelo jeito, vimos o mesmo espetáculo. Você tem um estilo de escrever que lembra o Décio e o Clóvis Garcia: limpo, objetivo. Grande abraço.
ResponderExcluirCarlos, meu caro! Fico lisonjeado com a comparação. Jamais chegarei perto desses dois ícones da crítica teatral brasileira. Muito obrigado. Um abração.
ResponderExcluirBoa tarde, Cetra! Posso usar a imagem, máscaras neste artigo, no site do teatro da cidade na Rússia, como um logotipo?
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