quinta-feira, 9 de outubro de 2014

ROBERT LEPAGE – BATE-PAPO


 
                O primeiro contato que tive com a obra de Robert Lepage foi em 2002 quando assisti no Rio de Janeiro à montagem de Monique Gardenberg de Os Sete Afluentes do Rio Ota. O impacto foi imediato o que me fez rever o espetáculo por mais três vezes quando foi apresentado em São Paulo (naveguei pelos afluentes do Ota por 20 horas, já que a peça tinha cinco horas de duração). A partir daí pesquisei o trabalho do artista e em 2004 assisti ao filme O Lado Secreto da Lua que foi outro impacto e me fez buscar mais informações sobre ele.
 
Cenas da montagem brasileira de Os Sete Afluentes do Rio Ota       (2002-2003)
 
O Lado Escuro da Lua (filme)
 
                Ontem tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Robert Lepage no Sesc Santo Amaro onde ele participou de um bate-papo com o público, mediado pelo Prof. Luís Fernando Ramos  e tendo a diretora Beatriz Sayad como intérprete.
 
 
 
                Ramos abriu a sessão comentando que apesar de muito criativos e inovadores na forma os espetáculos de Lepage têm narrativa clara e direta o que vai contra os preceitos do teatro pós dramático que tem um dos seus baluartes na anti-narrativa . Lepage respondeu à questão dizendo que Quebec (sede de sua companhia Ex Machina no Canadá) é uma cidade pequena e é necessário fazer espetáculos que sejam acessíveis aos seus moradores. Senti uma ponta de ironia nessa resposta, mas o assunto não foi levado adiante.
                O encenador/ator/diretor cinematográfico comentou sobre as diferenças em fazer cinema (que é uma arte horizontal) e teatro, que segundo ele é vertical, tendo o homem no centro, suas aspirações no alto e embaixo seu inferno. Falou também de suas experiências em dirigir óperas e um espetáculo do Cirque du Soleil.
                Fez uma exposição sobre o processo de criação de seus espetáculos onde as personagens normalmente surgem antes da história. Chamou as improvisações feitas durante o período inicial do processo de “balde sem fundo”. Segundo ele, seus espetáculos começam a ter forma após a estreia.
                Quanto à sua companhia Ex Machina, disse que ela existe há aproximadamente 20 anos e está sediada num antigo quartel do corpo de bombeiros em Quebec. O grupo tem elementos do mundo todo e não se fazem testes (auditions) para a admissão no mesmo. A companhia não tem a hierarquia do teatro tradicional.
                Lepage disse que procura fazer espetáculos que tenham duas histórias: uma com H maiúsculo e outra com h minúsculo cujo tema universal e cotidiano seja uma porta para o espectador melhor compreender a primeira.
 
Jogo de Cartas: Espadas
 
                A seguir falou da tetralogia Jogos de Cartas cujas duas primeiras partes (espadas e copas) serão apresentadas em São Paulo. Tudo realmente começou com improvisações com jogos de cartas. Ao descobrir que o jogo foi uma invenção árabe, o grupo foi tomando consciência da influência da cultura dessa parte do oriente na cultura ocidental e o mundo árabe acabou se tornando o tema de todo o projeto. Cada naipe do baralho tem um significado bastante claro e este se tornou o norte para cada uma das encenações: espadas (militarismo), copas (crenças, religião), ouros (negócios) e paus (trabalhador). As duas últimas partes ainda estão em fase de preparação.
 
                Algumas pérolas ditas durante o bate papo:
                - Há uma grande diferença em incentivar um aluno a ser o “número um” e a ele ser “único”.
                - O teatro é semelhante ao esporte. Cada vez é uma coisa única. O espectador deve se sentir privilegiado ao estar presente a um ato efêmero que nunca mais vai se repetir  daquela maneira. Citou a lenda da escultura em gelo feita por Michelangelo que segundo as testemunhas oculares foi a mais bela obra do artista italiano. Quem vai desmenti-las?
                - Usualmente os ocidentais representam uma árvore com o tronco e os ramos, já os chineses e os japoneses a representam com o tronco e as raízes. É necessário sempre conhecer e aprofundar as raízes.
 
                Se já havia uma forte expectativa em relação aos espetáculos que serão apresentados, ela se tornou muito maior após as palavras do simpático e acessível encenador.
                Curioso e lamentável notar a presença muito pequena de atores e gente ligada ao teatro no público presente.
 
                JOGO DE CARTAS :ESPADAS estará em cartaz de 11 a 15 de outubro e JOGO DE CARTAS:COPAS de 22 a 25 de outubro no ginásio do Sesc Santo Amaro.

Um comentário:

  1. Que excelente apresentação, para quem não conhece, do encenador Robert Lepage. Fiquei ainda mais curiosa por assistir aos espetáculos.

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