segunda-feira, 27 de abril de 2015

COLÔNIA PENAL


 UMA COREOGRAFIA DO HORROR

        O espetáculo Colônia Penal da Cia. Carne Agonizante parte da obra de Franz Kafka (1883-1924) para retratar os horrores praticados nos porões da ditadura brasileira entre o nada saudoso período compreendido entre 1964 e 1985 em que os militares estiveram no poder. Muita gente foi torturada e a seguir morta ou desaparecida e a peça do coreógrafo Sandro Borelli mostra isso sem concessões com despojamento raro em nossos palcos.
 
 
        Durante cerca de uma hora presenciamos quatro burocratas da tortura comendo, se divertindo contando piadas preconceituosas e se revezando na impiedosa tortura de um suposto preso político. Um assustador boneco também está sentado à mesa presenciando impassível tudo o que ocorre em sua volta. No aterrador final a vítima é canibalizada pelos seus algozes numa cena tão dolorida quanto bela.
 
 
        A preparação corporal dos atores é imprescindível para acompanhar a brutal coreografia de Borelli que submete a vítima às mais violentas formas de tortura praticadas naquela época e que infelizmente deixaram certa herança até os dias de hoje.
        Dois atores/dançarinos (Everton Ferreira e Mainah Santana) revezam-se no papel da vítima. Na noite em que assisti ao pungente espetáculo foi a vez de Mainah se submeter ao papel. Cabe aos torturadores a difícil tarefa de aplicar os castigos realisticamente, sem, porém, machucar a atriz que representa a torturada. Um chute fora do lugar ou uma pisada num lugar vulnerável do corpo traria consequências graves.
        Só agora tive a oportunidade de assistir a Colônia Penal, uma vez que o trabalho estreou em 2013 e já cumpriu várias temporadas, inclusive esta que terminou no último domingo (26 de abril).
        Este espetáculo deveria ser apresentado em escolas como aula de Ética e Cidadania e torna-se particularmente urgente quando desavisados (?) jovens clamam nas ruas pela volta dos militares ao poder.
        Não é fácil assistir a Colônia Penal, pois como escrevi acima o espetáculo não faz concessões nem dramáticas nem estéticas. A coreografia de Borelli é acompanhada eficientemente pela seca trilha sonora de Gustavo Domingues formada de sons ensurdecedores e pelos figurinos burocráticos dos torturadores concebidos pelo próprio elenco. Não é fácil, mas é extremamente necessário! Se voltar ao cartaz, não perca.

        COLÔNIA PENAL estava em cartaz no KAZULO ESPAÇO DE CULTURA E ARTE da Cia.Carne Agonizante, situado na Rua Sousa Lima 300, próximo ao Teatro São Pedro e ao Teatro do Núcleo Experimental.

        Se você quer uma fotografia do futuro, imagine uma bota pisando num rosto humano para sempre. (George Orwell):
 
 
FOTOS DE JÚNIOR CECON

 

27/04/2015

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