domingo, 12 de julho de 2015

O TAXIDERMISTA


 
         A julgar pelos dois trabalhos apresentados até o momento, a I Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP idealizada por Kil Abreu pode se considerar um grande sucesso. Por sinal as inscrições para a segunda edição já estão abertas.
         O instigante Mantenha Fora do Alcance do Bebê indicado para o Prêmio APCA de dramaturgia (Silvia Gomez) é seguido desta excelente fábula dramática O Taxidermista de René Piazentin.
 

O Taxidermista: René Piazentin e seus animais falantes.

 
Foto de Lívia Simardi

         Fábula tocante sobre vida e morte, corpo e alma e mais que tudo sobre a trajetória dos seres humanos (ou não!) neste mundo conturbado em que vivemos. A ação se passa em algum lugar do futuro. Existe o lado de cá e o lado de lá. Deste lado reina o caos e a destruição e parece que depois do túnel existe alguma luz. 
         Por meio da história do taxidermista do lado de cá que tem um zoológico de animais falantes que estão mortos e empalhados e da menina que vai até ele para empalhar seu cão morto, “único elo com o curto espaço de tempo em que foi feliz”, Piazentin nos conduz para um universo sombrio levantando de forma poética e lúdica (sim, o espetáculo nos faz rir em vários momentos) questões básicas dos homens: o que eu sou?, onde estou? para onde eu vou?.Em certo momento o taxidermista pergunta para a menina “Como você se imagina, para sempre?” e a questão ressoa forte em nossos corações e mentes até muito tempo após o final da apresentação.
         As falas dos animais são espetáculo à parte e aquela da zebra quase ao final do espetáculo pode fazer parte de qualquer antologia de teatro. Também merecem destaque as divertidas cenas dos quatro cavalos onde podemos notar uma forte denúncia sobre o preconceito racial.
         Com exceção do taxidermista, bravamente defendido por Rodrigo Sanches, os outros ótimos atores da Cia. dos Imaginários se revezam na interpretação das demais personagens trocando apenas algum elemento do vestuário, destacando-se mais em uma do que nas outras: as deliciosas girafas (Aline Baba e Waldir Medeiros), o cão Toy (Renata Weinberger), a garota Lola (Luana Frez) e, é claro, a zebra (Kedma Franza). Numa interessante movimentação cênica os atores também manipulam os poucos e eficientes objetos de cena que compõem o cenário.
         Além da autoria, René Piazentin encarrega-se da direção do espetáculo pontuado por bela trilha sonora também de sua autoria.
         No programa da peça o encenador Nelson Baskerville recomenda “Permita-se comover-se”. A comoção com este magnífico espetáculo surge de forma natural e impulsiva; garanto que mesmo que se policie, a emoção tomará conta de você.
         O desfecho da peça é ótimo achado dramatúrgico que não deve ser revelado sob pena de quebrar a surpresa do mesmo. Por sinal: existe alguma luz depois do túnel?
         Acredito que a peça teria grande aceitação e repercussão em uma plateia de pré-adolescentes e jovens em geral.

         O TAXIDERMISTA está em cartaz no Centro Cultural São Paulo com entradas gratuitas às sextas e sábados (21h) e aos domingos (20h) por apenas quatro semanas (até 09/08). ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL. CORRA PARA VER!

 

12/07/2015

        

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