segunda-feira, 12 de outubro de 2015

DO AMOR


O PRIMEIRO MINYANA A GENTE NÃO ESQUECE... TAMPOUCO O SEGUNDO!


         No ano de 2006 a Companhia Brasileira de Teatro de Curitiba apresentou em São Paulo a peça Suíte 1 do dramaturgo francês Philippe Minyana. Foi uma grata descoberta ver e ouvir aquele texto, uma verdadeira partitura regida (dirigida) por Márcio Abreu tendo como instrumentos as inflexões vocais dos atores. Escrita em 2002 a ela seguiram-se Suíte 2 e Suíte 3 nunca montadas por aqui. Instaurou-se a curiosidade de conhecer melhor a obra do autor, mas além de pouco montadas, com exceção de Suíte 1, suas obras também não foram publicadas no Brasil.
         Agora por iniciativa de Amanda Banffy (produtora, tradutora e atriz) nos chega Do Amor (De l’Amour), peça escrita em 2011 por Minyana. Apresentada de forma não linear a peça pipoca flashes da vida do casal Cristina e Bob que esporadicamente é visitado pelo casal Milene e Ted. As ações interpretadas são intercaladas por outras narradas. São momentos da vida cotidiana desses quatro e de quaisquer seres que se relacionam: afetos, discordâncias, amizade, amor, nascimento, morte, falta de dinheiro, viagens, doenças, velhice.
         A estimulante montagem de Francisco Medeiros é marcada pela excelente trilha sonora de Dr. Morris que comanda a movimentação e o tempo dos atores. Outra vez o texto de Minyana conduz a uma montagem na forma de partitura que exige muita concentração por parte dos quatro intérpretes para que o todo não saia do ritmo.

Gustavo Duque (substituido por Leonardo Antunes)/Amanda Banffy/Laís Marques/Carlos Baldim.
Foto: Marília Scarabello

         Por detrás de aparente fragilidade física, Amanda Banffy revela forte presença cênica quer quando interpreta, quer quando narra ou mesmo em suas entradas e saídas de cena. Laís Marques inicia a peça num tom alto e discursivo, mas no decorrer da peça alcança o tom desejado. Carlos Baldim tem bom desempenho e talvez seja aquele que melhor revele a fragilidade dos idosos. Mérito especial para Leonardo Antunes que com poucos ensaios (substituiu o ator Gustavo Duque) e apenas três apresentações alcança ótimo resultado tanto na interpretação como na complicada movimentação cênica. Nominei cada um deles, mas cabe lembrar que como um todo o elenco é homogêneo e harmonioso. Em certo momento os atores trocam de personagem (indicação do autor ou do diretor?) o que acentua que aquilo que ocorre em cena pode ocorrer com qualquer ser humano. Em conversa com os atores ao final do espetáculo soubemos que naquele fim de semana nasceu a filha de um elemento do grupo e naquele mesmo dia havia falecido a mãe de outro. Coisas que acontecem com você e comigo. Coisas da vida mostradas de forma tão original por Minyana neste DO AMOR.
         Os figurinos de Marichilene Artisevskis abusam dos capotes, sobretudos e boinas indicando que a peça tem ação em ambientes muito frios, mas penalizando os atores nestes dias tão quentes de primavera do hemisfério sul.
         DO AMOR é um impecável exercício de teatro orquestrado por Francisco Medeiros que pessoas sensíveis e curiosas por novas linguagens teatrais não podem perder. Está em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade às quintas, sextas e sábados às 20h com ingressos gratuitos. SÓ ATÉ 24 DE OUTUBRO.


12/10/2015
        


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