sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O TESTAMENTO DE MARIA


        Desde sempre as religiões monoteístas geraram mais ódio do que amor, mais guerra do que união entre os povos, mais fratricídios do que fraternidade. Parece que o Deus é um só, mas surgem profetas que o defendem à sua maneira e depois os seguidores de cada um desses líderes criam dogmas segundo as suas crenças e interesses criando as diversas religiões monoteístas devidamente documentadas, entre outros,na Bíblia, no Alcorão e no Torah, estes, por sua vez são interpretados de acordo com os interesses dos seguidores de cada religião. Na defesa ferrenha e unilateral desses interesses surgem os fundamentalistas sobre cujos estragos cometidos contra a humanidade não há necessidade de discorrer.
        Colm Tóibin é dramaturgo originário de país extremamente católico como a Irlanda e nada mais natural que suas dúvidas e revoltas recaiam sobre a religião dominante em seu país. Para tanto usa de excelente recurso dramático que é colocar em cena Maria, a mãe de Jesus, alguns anos após a crucificação do filho. Maria é um poço de revolta em relação à maneira como seu filho foi conduzido e como ele se deixou seduzir pelo poder e pela crença que era o filho de Deus. Maria contesta os milagres de Cristo, assim como se nega a colaborar com o livro que está sendo escrito pelos seguidores, que segundo ela não reproduz os fatos como realmente aconteceram.


        Essa mulher de carne e osso, muito distante da madona presente nos altares, é interpretada por Denise Weinberg numa atuação não menos que poderosa. Complementada pelo excelente comentário musical executado ao vivo por Gregory Slivar Denise expõe visceralmente a revolta de Maria e em certo momento, desde já antológico, relembra a crucificação numa das cenas mais fortes vistas em nossos palcos nos últimos anos.
        Monoteístas convictos deverão se chocar com o espetáculo, ainda mais porque a bela cena final quando Maria decide repousar nos braços dos deuses gregos é uma verdadeira ode ao politeísmo.
        Ron Daniels coloca a ação em um cenário limpo formado apenas por tablado e cadeira, além do músico com seus instrumentos. O foco é na interpretação da atriz que já pode se inscrever entre as grandes do ano que está só começando. Que os jurados de prêmios não esqueçam ao final do ano de incluir em suas listas esta memorável interpretação de Denise Weinberg.
        O TESTAMENTO DE MARIA está em cartaz no Sesc Pinheiros apenas até o dia 13 de fevereiro. Sessões às 5ªs, 6ªs e sábados às 20h30. ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!

05/02/2016

        

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