quarta-feira, 20 de setembro de 2017

CERBERA


        Em cenário onde dramaturgos aparecem e desaparecem como cometas com a encenação de apenas uma obra, louve-se o surgimento de Carol Rainatto que no período de um ano tem três textos encenados pela Cia. do Ruído. Em 2016 foi a vez de Oito Balas e Meia Noite, Feliz Natal e agora Cerbera que completa a trilogia. O que torna o fato mais louvável é a ousadia da autora em inovar tanto no tema (a hipocrisia da classe média) como na forma (enquanto mantinha certa linearidade em Meia Noite, Feliz Natal, em Cerbera busca novos caminhos criando cenas não cronológicas e abrindo o espetáculo com significativos monólogos de cada uma das personagens, ouvidos de forma estranha, mas que vão se esclarecendo à medida que a ação se desenvolve).
        Cerbera é planta altamente tóxica e venenosa. Ela é considerada a arma do crime perfeito, pois o componente químico fica indetectável após o envenenamento. Metáfora perfeita para as intenções da peça.
        Obsessões ao alcance de todas as personagens parece ser o lema da dramaturga: Martin (Rodrigo de Castro) é um rapaz introvertido que adora se travestir; sua mãe Helena (Ynara Marson) é alcoólatra, apanha do marido e tem tendências homossexuais; Paulo, o marido (Rodrigo Frampton) é meio tarado e coça o saco permanentemente; Clara (Victoria Blat) é uma professora de piano reprimida que assedia sexualmente o aluno Martin; finalmente Cecília (Carol Rainatto) é uma garota fútil com tendências ninfomaníacas. São essas personagens que Carol põe em cena de forma cruel para mostrar a falsa moral da classe média brasileira. Não há dúvida que há um toque de Álbum de Família de Nelson Rodrigues.
        A direção de Elias Andreato carrega na dramaticidade resvalando, propositalmente, para o melodrama em muitos momentos. O cenário de Diogo Monteiro e os figurinos de Ananda Sueyoshi reforçam a decadência das personagens.

Rodrigo de Castro, Ynara Marson, Carol Rainatto, Rodrigo Frampton e Victoria Blat

        Victoria Blat empresta autoridade para sua professora de piano e tem bons momentos nos embates com Helena, interpretada por Ynara Marson. Rodrigo de Castro consegue mostrar as nuances de sua personagem. Rodrigo Frampton não distingue os momentos de cólera com os de sua obsessão por Cecília, algo que pode ser sanado ao longo da temporada. Ousada também é a participação da autora como a garota Cecília, sua inflexão de voz, a princípio estranha, depois se incorpora à tresloucada personagem.
        CERBERA está em cartaz no Espaço Parlapatões às quintas e sextas às 21h até 27 de outubro.

20/09/2017
       
       

        

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