domingo, 24 de setembro de 2017

PALAVRA DE STELA


      Personagens com perturbações mentais sempre proporcionaram memoráveis interpretações para atores de talento, haja vista Rubens Corrêa em Diário de Um Louco (1965), todos os atores que representavam os internos do hospício de Charenton em Marat-Sade (1967), Dani Barros em Estamira (2012) e no cinema Giulietta Masina como a inesquecível Gelsomina de La Strada (1954) de Fellini. Agora é a vez de Cleide Queiroz brilhar com sua impressionante atuação em Palavras de Stela.
              A concepção deste espetáculo se assemelha àquela de Estamira. Tanto Dani Barros como Cleide Queiroz tiveram mães psicóticas e as montagens mesclaram fatos da vida e do modo de ser das personagens Estamira e Stela com acontecimentos vividos pelas atrizes. O resultado em ambos os casos é impactante e comovente.
         A encenação de Elias Andreato está calcada apenas em dois pontos: a atriz e a iluminação; esta última consegue captar situações diversas como os estados de espírito de Stela e as cenas de eletrochoque. O desenho de luz é tão vital para o espetáculo que só podia ter sido concebido pelo próprio diretor. Todos os outros elementos de cena (cenário, figurinos, adereços e trilha sonora) colaboram para o bom resultado final.
        A julgar pelos programas disponíveis Cleide Eunice (era assim seu nome artístico na época) estreou profissionalmente em 1969 na montagem de Silnei Siqueira para Morte e Vida Severina produzida e interpretada por Paulo Autran (não confundir com aquela do TUCA em 1965). 

Foto do programa de Morte e Vida Severina (1969)

        A presença de Cleide não foi muito constante nos palcos paulistanos nesses quase 50 anos, sendo que seu trabalho mais lembrado e importante foi a Joana de Gota D’Água (2001) dirigida por Gabriel Villela. Em Palavra de Stela a atriz tem oportunidade de mais uma vez mostrar todas as nuances de seu imenso talento alternando momentos de quase ferocidade com outros de calmaria mostrando assim a instabilidade emocional de Stela do Patrocínio. Dona de bela e potente voz Cleide se dá ao luxo de nos comover por duas vezes ao cantar Estrela do Mar que ela traduz ao final para “Stela do ar”, fazendo lembrar outra “louca” chamada Ismênia, imortalizada no poema de Alphonsus de Guimaraens: Sim! Cleide, apesar de seu corpo, flutua divinamente no belo espaço criado por Mira Haar. Uma das grandes interpretações do ano!

        PALAVRA DE STELA está em cartaz até 29/10 no Teatro Núcleo Experimental às sextas (21h30), sábados (21h) e domingos (19h).

        Ah! O programa é lindo, com ilustrações de Roberto Alencar e simpáticos agradecimentos a Artaud, Castro Alves e Fernando Pessoa, entre outros.

24/09/2017
       


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