segunda-feira, 29 de julho de 2019

TERROR E MISÉRIA NO TERCEIRO MILÊNIO

 

 
PANFLETÁRIO SIM, E DAÍ?

        O dicionário Aurélio define “panfleto” como “pequeno escrito polêmico ou satírico, em estilo veemente”. O Google define “panfletário” como “algo que ataca alguém ou algo com críticas irônicas ou satíricas” ou ainda “algo que apoia com radicalismo uma ideia, um movimento, uma utopia, uma doutrina etc”. Essa palavra adquiriu ao longo do tempo uma conotação negativa como algo comunicado de forma gritante e, principalmente, tendenciosa no mau sentido.
        O espetáculo do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos tem o que há de melhor da palavra no seu sentido etimológico: é direto e contundente em suas críticas e denúncias aos absurdos desse governo que conduz dia a dia nosso país a um precipício e o faz de forma lúdica numa linguagem que atinge qualquer tipo de público.
        Se tivessem vergonha na cara os bolsonaristas corariam de vergonha ao assistir ao espetáculo e sairiam de cabeça baixa antes das luzes se acenderem. Bobagem pensar nisso: esse tipo de gente não vai ao teatro e se fosse era para agredir o elenco e quebrar o teatro.
        O espetáculo com dramaturgia de Claudia Schapira e Lucienne Guedes toma por base Terror e Miséria do Terceiro Reich de Brecht e o reinventa para nossa realidade tão parecida com aquela que havia na Alemanha dos anos 1930/1940. Ironicamente, cada cena é precedida por uma descrição do tipo “Passa-se em 1938, na cidade de Hannover, ao lado do Palácio da Alvorada em Brasília”.
        Trata-se de espetáculo mais que necessário nos dias atuais e que deveria permanecer em cartaz como peça de resistência até que a situação política do país saísse das mãos escrotas em que se encontra. Sim! Eu também estou sendo panfletário.
        O elenco coeso atua com muita energia e vibração com destaque para Georgette Fadel, Fernanda D’Umbra (poderosa!) , Roberta Estrela D’Alva, Sérgio Saviero (impagável imitando Chaplin na cena do globo em O Grande Ditador, só que aqui a terra é plana) e Vinicius Meloni (excelente na cena do juiz).
        A coreografia de Luaa Gabanini é forte e enégica lembrando os movimentos típicos de Pina Bausch na cena da mulher judia. Tanto a coreografia como os vídeos de Bianca Turner e a trilha operada pelos DJs Dani Nega e Eugênio Lima são excelentes ferramentas muito bem utilizadas pela diretora Claudia Schapira que resultam em um todo uniforme e poderoso.

        A peça saiu de cartaz do SESC Bom Retiro neste domingo, 28 de julho e URGE que encontre um novo espaço para ser apresentada.

        29/07/2019

       

2 comentários:

  1. Cetra, nossos gostos não têm combinado ultimamente. No meu comentário, no Instagram e no Facebook, fui comedido, em respeito à história e à qualidade daqueles artistas envolvidos, mas Terror e Miséria no Terceiro Milênio é uma das peças mais chatas do ano, até aqui. Pra você, eu posso falar: é panfletária no pior sentido do termo, a meu ver. Brecht não se presta a isso. Enfim, concordamos que precisamos resistir a esse bando de canalhas que nos (des)governa. Podia ser com uma peça melhor.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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