Sob
os mais variados aspectos a condição da mulher tem sido assunto bastante
presente nos espetáculos de São Paulo: preconceitos, violências e assédios a
que estão sujeitas e dos quais são vítimas. Esses fatos foram muito bem mostrados
em relação à mulher negra em Bertoleza
e em relação à mulher empregada doméstica em DOCMalcriadas, só para ficar nos últimos trabalhos a que tive a
oportunidade de assistir.
Eis
que surge Uma Lei Chamada Mulher
contundente texto de Consuelo de Castro (1946-2016) escrito em 2013 a partir do
livro Sobrevivi...Posso Contar de
1994 escrito pela cearense Maria da Penha onde ela relata a violência doméstica
sofrida por ação de seu companheiro que a torturou física e psicologicamente
chegando ao limite de tentar assassiná-la por duas vezes, sendo que uma dessas
tentativas a deixou paralítica. O seu caso inspirou e deu nome à Lei Maria
da Penha, lei federal que entrou em vigor em 2006 cujo objetivo
principal é estipular punição adequada e coibir atos de violência doméstica
contra a mulher.
Consuelo relata em detalhes
desde o momento romântico em que o casal se conheceu dançando ao som de Can’t Take My Eyes Off You, passando
pelo longo período em que viveram juntos e no qual foi aumentando a violência
do companheiro com submissão da mulher, provocada muito provavelmente por
razões que envolvem os filhos, por desejo sexual e até pelo preconceito
machista da sociedade (se ele bateu é porque você fez alguma coisa para
merecer) . Impulsionada por uma empregada e amiga ela denuncia o homem que é
tratado com a devida preguiça da justiça brasileira, entrando e saindo da
prisão várias vezes. A lei só foi decretada mais de dez anos depois.
Faço esse longo preâmbulo
apenas para ressaltar quão oportuna, urgente e necessária é esta montagem
dirigida com mãos firmes pela nossa querida fotógrafa Lenise Pinheiro com co
direção de iris Cavalcanti.
Texto calcado na palavra e na agilidade
dos diálogos exige atrizes e ator com predicados especiais para interpretá-lo e
Lenise encontrou elenco perfeito para a empreitada.
Natália Moço tem participação
menor, mas não menos importante, como a amante de Marco, o marido de Penha e
como uma interrogadora da polícia. Lúcia Bronstein interpreta com muita graça a
empregada e amiga, figura fundamental na vida real e na trama.
Iuri Saraiva é o companheiro
violento e mau caráter com enorme poder de sedução e de manipulação. Excelente
composição com sotaque em castelhano do qual ele não esquece em nenhum momento.
Com vários trabalhos bem sucedidos, incluindo um prêmio da APCA por Jardim de Inverno, Iuri vai se consolidando
como um dos bons atores de sua geração.
Isabella Lemos entrega-se com
paixão à personagem de Maria da Penha, realizando a meu modo de ver, seu melhor
trabalho desde o memorável Mão na Luva
(2009), onde, por coincidência, ela também estava com cabelos pretos.
O texto de Consuelo de Castro
é bastante detalhista e às vezes repetitivo. Um corte nas gorduras seria
extremamente benéfico para uma melhor comunicação com o público.
A iluminação da peça me
pareceu indefinida com luzes de cores diversas acendendo e/ou apagando sem uma
sincronia com a ação, deixando uma dúvida no espectador no sentido de por que
mudou o foco se a ação não mudou. Dúvida de um espectador chato, claro.
Seja mulher ou seja homem,
VOCÊ precisa assistir a este importantíssimo espetáculo.
UMA LEI CHAMADA MULHER está em
cartaz no SESC Ipiranga só até 22/03 com sessões de quinta a sábado às 21h e
aos domingos às 18h.
02/03/2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário