Lee
Taylor, na época ainda Thalor e com apenas 23 anos, despontou como grande ator
em 2006, pelas mãos do Mestre Antunes Filho que vendo o seu potencial lhe deu o
papel principal de A Pedra do Reino.
A partir daí foram mais quatro espetáculos todos dirigidos pelo Mestre que
culminou em 2010 com Policarpo Quaresma
onde ele interpretava o personagem título e criava uma cena que se tornou antológica
sapateando ao som do Hino Nacional. A foto abaixo mostra momento do ensaio dessa
cena onde o Mestre observa o pupilo.
Ao
sair do CPT (Centro de Pesquisa Teatral) continuou sua carreira vitoriosa como
ator (televisão, cinema, teatro), como diretor, como educador e como criador do
NAC (Núcleo de Artes Cênicas) do qual DOC.malcriadas
é a última criação.
Durante
o bate papo após o espetáculo Lee comentou que algumas referências para essa
encenação vieram de Pina Bausch e de Tadeusz Kantor, mas não há a menor dúvida
que a maior referência é aquela do seu grande Mestre Antunes Filho (que também
teve muitas influências, além de seus próprios méritos), presente principalmente
nas cenas de conjunto onde as atrizes circulam pelo palco apenas com a presença
opressora da estátua clássica. Além de todos os outros méritos o espetáculo é
visualmente muito bonito colaborando para isso a iluminação de Fran Barros e a
direção de arte assinada a quatro mãos por Lee e por outro talentoso
remanescente do CPT, Eric Lenate.
O
espetáculo aborda o mundo das empregadas domésticas a partir de relatos
colhidos pelo elenco de nove atrizes e mostra vários ângulos de vidas semi
vividas sob o jugo de patroas e patrões que se sentem os donos de suas
serviçais. É curioso notar em muitos casos o conformismo gerado pela
necessidade do emprego e por certa herança cultural (a maioria teve
antepassados escravos).
Empregados
espertos tratados comicamente como heróis que passam a perna nos patrões são
personagens comuns na história do teatro haja vista o Arlequim de Goldoni e na
cena brasileira a Olímpia de Trair e
Coçar É Só Começar de Marcos Caruso. Outro enfoque é o deboche escancarado
de Eduardo Dusek na canção Doméstica.
O tom aqui é outro e se aproxima bastante do bem sucedido Domésticas (1998) de Renata Melo também criado a partir de
entrevistas com empregadas domésticas (esta peça virou filme em 2001, dirigido
por Fernando Meirelles e Nando Olival): o cômico tem sabor amargo e forte
conteúdo social.
A
cena final da revolta das criadas com as roupas jogadas no público é muito bem
bolada e me fez lembrar o final de Marat
Sade na encenação de Ademar Guerra (1967), a partir do original de Peter
Brook. Como se pode notar a apropriação quando realizada de maneira criativa
adquire feição nova, original e muito bem vinda.
DOC.MALCRIADAS
está em cartaz no Teatro João Caetano apenas até este domingo (01/03) às 19h,
mas cumpre nova temporada no Centro Cultural Olido de 27/03 a 19/04 às sextas e
sábados (20h) e aos domingos (19h). NÃO DEIXE DE VER!
01/03/2020
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