Abril foi um mês
pródigo para minhas andanças virtuais pelo teatro. Assisti a 35 espetáculos,
dos quais gostei muito de 20, além disso assisti ao documentário sobre
Ziembinski, à entrevista de Ruy Castro a Marco Antônio Braz sobre Nelson
Rodrigues, ao Persona especial sobre Cacilda Becker e o mês fechou
brilhantemente com o bate papo com Alvaro Machado sobre Ruth Escobar.
Os grandes destaques
do mês foram o Primeiro Festival da Tragédia Brasileira da Cia.
Repertório Rodriguiana que visitou, por meio de criativas leituras
dramáticas, cinco peças de Nelson Rodrigues e o projeto Abismos de
Dostoiévski, idealizado por Marlene Salgado e Elena Vássina, trazendo seis
adaptações de obras do escritor russo para a linguagem cênica.
As sempre bem vindas
boas surpresas (a arte tem que me surpreender!) vieram de Claudio Mendes com
sua criativa Lições Dramáticas de João Caetano, do excepcional
texto A Genealogia Celeste de Uma Dança de autoria de Juliana
Leite, da original ideia de Ex-NE – O Sumiço que pode render um
excelente espetáculo no futuro, e das, não menos que excepcionais,
interpretações de duas atrizes que eu não conhecia: Marina Nogaeva Tenório (A
Dócil) e Liane Venturella (Palácio do Fim).
As/os sempre
excelentes Carolina Virgüez (Vozes do Silêncio), Luciano Chirolli (A
Genealogia Celeste de Uma Dança), Isabella Lemos (Viva Cacilda! Felicidade Guerreira), Antoniela Canto (Toda Nudez Será
Castigada), Mariana Muniz (Sônia, Um Ato Por Tolstói), Celso
Frateschi (O Sonho de Raskólnikov), Matheus Nachtergaele (Sonho de Um
Homem Ridículo), Luah Guimarães (Stavrôgin, Eu Mesmo) e Fernanda
Azevedo (Os Grandes Vulcões) completam a lista das grandes
interpretações do mês.
Encenações muito bem
realizadas, muitas delas se utilizando da linguagem cinematográfica que
resultaram nos batizados teatro-filme, peça híbrida e outros nomes: Vozes do
Silêncio, Viva Cacilda! Felicidade Guerreira, Sertão Sem Fim, Não Se Mate, A Genealogia Celeste de Uma Dança, John
e Eu, Quando as Máquinas Param, Sonia, Um Ato Por Tolstói, Sede, O Híbrido,
Ex-Ne - O Sumiço, Os Grandes Vulcões e Palácio do Fim.
Convenhamos que não é
pouco. Mas não podia ser diferente pois neste mês se comemorou o centenário de
nascimento de Cacilda Becker e Dionísio me deu de presente toda essa fartura, afinal
eu também fiz aniversário!
E de lambuja eu vi minha peça Que Fim Levou Carlotinha? subir ao palco por obra de meu parceiro na dramaturgia Arnaldo D’Ávila.
Bertrand Russel
encerra seu famoso escrito Aquilo Porque Vivi da seguinte maneira: “Amor
e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo
ao céu. Mas a piedade sempre me traz de volta à terra. Ecos de gritos de dor
ecoam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores,
velhos desvalidos que constituem um fardo para seus filhos e todo o mundo de
solidão, pobreza e sofrimento convertem numa zombaria o que deveria ser a vida
humana. Anseio por aliviar o mal, mas não posso, e também sofro”
E é assim que eu hoje me sinto: louvando a vida e o teatro que amo tanto, mas carregando nos ombros 400.000 vítimas da covid 19 e esse maldito presidente e sua curriola tão maldita quanto ele, sem poder fazer nada.
01/05/2021
Os anos de chumbo 1964-85 (sejamos mais justos: 1968-1979!) foram difíceis para o Teatro e para a arte em geral. Não temos a conta de quantos espetáculos censurados, quantas peças interrompidas em cena no palco e atores detidos...
ResponderExcluir2018: eleição de Jair Bolsonaro e fim da oligarquia tucano-estrela de 33 anos. Se o monstro Bozo pretendeu algum dia censurar uma peça teatral, todo diretor, ator, cenógrafo, iluminador, figurinista, maquiador deve ajoelhar-se e agradecer a Dionísio, ao Olimpo todo, pela pandemia do Covid-19 e pelas 400 mil mortes, número dado por este blogue. Os teatros estão fechados e os governos não se ocupam de outra coisa que não seja a pandemia do vírus chinês, para acabar com ela propondo tratamentos precoces (o federal), ou para perpetuá-la com internações, lockdowns, cardápios de vacinas, multas, punições (os estaduais e o judiciário).
No Brasil, há décadas a sublime arte do teatro está sequestrada pela ideologia de esquerda. Imagino comigo se Franco Zampari daria um TBC ao Brasil vendo a classe degenerada que está hoje sobre os palcos. E Nelson Rodrigues, anticomunista ferrenho, entusiasta dos generais e maior dramaturgo brasileiro? Suas surras de óbvio ululante não serviram de nada aos mimizeiros da ribalta?
A ditadura militar censurava as artes e a imprensa. "Bozo e sua curriola maldita" fizeram o oposto: mandaram as "artes" e a imprensa irem plantar batata pra ver se brota mandioca. Haverá alegria entre os deuses no excelso Olimpo o dia que dona Fernanda Montenegro e todos vocês descobrirem que censura e CORTE DE VERBAS PÚBLICAS são coisas bem diferentes.
Todo artista anti-Bolsonaro tem um sonho inatingível: ser censurado, preso, torturado por este governo que não se incomoda com ele. Cai o pano!
Pedro Maipe