Olhando para o
palácio do Louvre, para o Arco do Triunfo, para outros tantos monumentos da
linda capital francesa e também para as/os parisienses que por lá circulam,
fica difícil imaginar que tudo aquilo e aquelas pessoas podiam simplesmente não
mais existir, não fosse a interferência do diplomata suéco Raoul Nordling
(1881-1962) junto ao general alemão Dietrich von Choltitz (1894-1966) que tinha
por tarefa uma ordem de Hitler de destruir Paris junto com seus habitantes em
agosto de 1944.
Esse fato incrível
foi tema da peça de teatro Diplomacia do jovem escritor francês Cyril
Gély (1968). A peça estreou em Paris em 2011 com Niels Arestrup (Choltitz) e
André Dussollier (Nordling) e foi transformada em filme em 2015 com o mesmo
elenco e direção de Volker Schlöndorff.
Peça e filme foram
muito bem sucedidos e a peça foi traduzida para o português por Aimar Labaki que
manteve a fluência do brilhante diálogo original.
Em função da pandemia
da covid 19 a peça foi concebida para exibição virtual, mas dá para intuir que
sua versão para o palco será muito bem sucedida.
Com certeza há
limitações na versão virtual, mas não se pode negar que a cena inicial com o
general sentado em sua escrivaninha banhado pela luz de um lindo abajur estilo art
déco jamais teria o mesmo alcance estético para o espectador se visto de um
palco.
O diretor Ricardo
Grasson optou por fotografar o espetáculo em preto e branco e os claros-escuros
resultantes são belíssimos; para tanto contribuem grandemente o videografismo
de André Grynwask e Pri Argoud (esta dupla tem realizado trabalhos excelentes
nestes tempos de teatro virtual) e a magnífica iluminação de Cesar Pivetti e
Marina Stoll. O espetáculo é registrado por três câmeras, uma delas colocada no
teto mostrando a cena vista do alto. Também colaboram para o excelente
resultado final os figurinos de Rosângela Ribeiro, a caracterização dos atores
assinada por Louise Helène e a trilha sonora precisa de Ricardo Severo. Cenas
da Paris ocupada abrem o espetáculo e cenas da Paris libertada o encerram,
sempre ao som de belas canções francesas. O elenco é formado por Eduardo
Semerjian (Choltitz) e Otávio Martins (Nordling).
Em 1944 Nordling
tinha 63 anos e Choltitz tinha 50 anos. No filme os dois são representados por
atores idosos e Arestrup aparenta ser mais velho do que Dussolier. Na versão
brasileira as coisas parecem ser mais coerentes: os atores estão na faixa dos
50 anos o que encaixa com a personagem de Choltitz e para compor Nordling
Otávio Martins realiza excelente trabalho vocal e corporal auxiliado pelo
visagismo de Louise Helène, convencendo o espectador que se trata de um senhor
idoso com certa debilidade física.
A peça trata de um
momento crítico de nossa história que só não teve um desfecho trágico por conta
da solidariedade e da civilidade. Eduardo Semerjian e Otávio Martins dão conta
de transmitir esses conceitos de maneira ímpar. Suas interpretações já se
incluem nos grandes momentos que o web teatro tem nos oferecido.
O grupo aproveitou
para colocar na boca do personagem do general a frase infeliz do também general
Eduardo Pazuello: “Uns mandam, outros obedecem”. Não havia necessidade
dessa inserção para mostrar a atualidade da peça, mas esse reforço é muito bem-vindo
neste momento obscurantista que estamos vivendo.
Eu diria que Diplomacia é espetáculo OBRIGATÓRIO na atualidade, na qual o diálogo se torna cada vez mais difícil. Como mencionei no início desta matéria, não fosse o diálogo, Paris e os parisienses teriam simplesmente sumido do mapa o que teria sido uma perda irreparável para a humanidade.
DIPLOMACIA pode (e deve!!) ser assistida na plataforma digital do Sesc SP por três meses a partir da data de estreia (19/05/2021).
20/05/2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário