sábado, 2 de julho de 2022

BALANÇO TEATRAL DO 1º SEMESTRE DE 2022


Os espetáculos presenciais voltaram com muito fôlego nos primeiros meses de 2022. O movimento ascendente começou em setembro do ano passado, ao mesmo tempo em que as estreias virtuais começaram a declinar.

Na época se comentava que, independentemente dos presenciais, os espetáculos online iriam continuar, mas não foi o que aconteceu. Atualmente são raros os espetáculos realizados de forma virtual, por outro lado tivemos cerca de 200 espetáculos presentes nos palcos paulistanos no semestre, sendo 157 de autores brasileiros.

Assisti a 94 espetáculos neste primeiro semestre, sendo apenas três virtuais e a grande maioria da única maneira que o verdadeiro teatro acontece: público e elenco face a face respirando o mesmo ar.

 Escrevi sobre 50 espetáculos dos 94 a que assisti o que atesta o grau de satisfação deste espectador diante das montagens da temporada, uma vez que, como todos sabem, só escrevo sobre espetáculos que me dizem alguma coisa e me surpreendam. 

Fato marcante foi a presença de grandes nomes da dramaturgia universal em nossos palcos: Thomas Bernhard (O Náufrago e O Fazedor de Teatro), Molière (Escola das Mulheres), Matei Visniec (Com os Bolsos Cheios de Pão), Tennessee Williams (O Anjo de Pedra), Samuel Beckett (Esperando Godot e Play Beckett), Strindberg (O Pai), Stephen Sondheim (Sweeney Todd), Pirandello (Henrique IV), Ibsen (Um Inimigo do Povo), Büchner (Woyzeck), Brecht (Terra de Matadouros) e Sófocles (Tebas). 

Quanto à dramaturgia brasileira, curiosamente, Nelson Rodrigues e Plínio Marcos não estiveram presentes nos nossos palcos. Dos clássicos, apenas Oduvaldo Vianna Filho (Papa Highirte), Oswald de Andrade (A Morta), João Cabral de Mello Neto (Morte e Vida Severina), Guimarães Rosa (Riobaldo) e Clarice Lispector (em várias adaptações de suas obras). 

O jovem Luccas Papp compareceu com três espetáculos (O Ovo de Ouro, Men.U e O Anjo de Cristal). Também com três obras tivemos a presença de Clarice Niskier (a longeva A Alma Imoral, Coração de Campanha e a verdadeira obra-prima A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong). A dupla Fernanda Maia/Zé Henrique de Paula foi responsável por três significativos e muito bem sucedidos espetáculos musicais (Sweeney Todd, Cabaret dos Bichos e Brenda Lee e o Palácio das Princesas). Tatuagem, que foi obra prima no cinema, também foi um dos melhores espetáculos do semestre a partir do roteiro do filme de Hilton Lacerda com direção de Kleber Montanheiro. 

Na categoria espetáculos eu destacaria: Língua Brasileira (direção de Felipe Hirsch), Sem Palavras (direção de Marcio Abreu), Anjo de Pedra (direção de Nelson Baskerville), Encantado (direção de Lia Rodrigues), Pérsia (direção de Sandra Vargas e Luiz André Cherubini), A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong (direção de Clarice Niskier), Um Inimigo do Povo (direção de José Fernando Azevedo), Tatuagem (direção de Kleber Montanheiro), Play Beckett (direção de Mika Lins), O Fazedor de Teatro (direção de Marcio Aurelio), Jacksons do Pandeiro (direção de Duda Maia), Cabaret dos Bichos e Brenda Lee e o Palácio das Princesas (direção de Zé Henrique de Paula), Tebas (direção de Marcelo Lazzaratto).

Poder citar 14 espetáculos tão significativos como os melhores de tão curto período de tempo é um verdadeiro privilégio e motivo de alegria para este espectador apaixonado. Parabéns aos nossos profissionais de teatro pelo esforço, pela garra e pelo talento demonstrados.

Se eu tenho que escolher o melhor dos melhores do semestre, não vacilo um segundo para escrever que esse lugar de honra cabe a Jacksons do Pandeiro de Braulio Tavares e Eduardo Rios com a maravilhosa Barca dos Corações Partidos e direção de Duda Maia.

Um impactante espetáculo de dança teatro de Lia Rodrigues (Encantados) também ocupa lugar bastante importante nos melhores do período. 

No campo da interpretação cito:

- Atores: Luciano Chirolli (O Náufrago), Brian Penido Ross (Escola de Mulheres), Antonio Petrin (A Pane), Vitor Vieira (Nossos Ossos), Caca Carvalho (Leonardo da Vinci – A Obra Oculta), Donizete Mazonas (Com os Bolsos Cheios de Pão), Odilon Wagner (A Última Sessão de Freud), Marcos Damigo (O Pai), Dudu Galvão (Morte e Vida Severina), Rogerio Brito (Um Inimigo do Povo), Cleomácio Inácio e André Torquato (Tatuagem), Paulo Marcello (O Fazedor de Teatro), Zécarlos Machado (Papa Highirte), Marcelo Lazzaratto (Tebas) 

- Atrizes: Amanda Lyra (Língua Brasileira), Kenya Dias e Giovana Soar (Sem Palavras), Emmanuele Araújo (Chicago), Laila Garin (A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa), Sara Antunes (Anjo de Pedra), Dalma Régia (Cárcere ou Por que as Mulheres Viram Búfalos), Clarice Niskier (A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong), Liliane Xavier (Pinóquio). 

Não vou nominar, mas quero lembrar de todos os profissionais envolvidos com tradução, adaptação de textos, cenografia, coreografia, iluminação, som, figurino, fotografia, visagismo, contrarregragem, camareira e produção. Personagens invisíveis que sem elas a magia do teatro não aconteceria. 

Outros destaques:

         - A realização da 8ª edição da MITsp em formato menor, mas marcando necessárias presença e sobrevivência.

         - O retorno do projeto Prêt-à-Porter pelo Centro de Pesquisa Teatral do SESC (CPT), agora sob a supervisão de Emerson Danesi.

         - E um destaque negativo: A prática utilizada no semestre por várias entidades de eliminar o programa impresso, colocando o acesso ao material através de QRcode. Tal prática é, a meu ver, sinal de desrespeito à memória do teatro e a seus realizadores, uma vez que a ficha técnica dos espetáculos provavelmente estará indisponível aos futuros pesquisadores. Ao que parece os programas impressos aos poucos estão voltando, para alegria deste “Arauto da defesa do programa impresso”.

         Que o segundo semestre de 2022 seja tão ou mais rico do que o primeiro, para dor de cabeça dos críticos que terão de optar por poucos nomes como os premiados do ano.

O TEATRO NOS UNE

O TEATRO NOS TORNA FORTES

VIVA O TEATRO!

         02/07/2022

 

        

 

 

 

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