Personagens muito bem
construídas e desenvolvidas, numa trama dramatúrgica consistente e repleta de
toques sociais (até citações de Brecht foram inseridas nos diálogos) resultaram
em Bonnie & Clyde, um musical de fibra com uma história de
fôlego que mantém o público atento durante as suas três horas de duração, mesmo
que este já conheça o desfecho.
Bonnie Parker
(01/01/1910-23/05/1934) e Clyde Barrow (24/03/1909-23/05/1934) realmente
existiram e atuaram roubando, assaltando e matando durante os duros anos da
depressão norte-americana, época onde valia tudo para poder sobreviver e onde a
frase de Brecht citada na peça cai como uma luva: “Primeiro a barriga,
depois a moral”.
Foram metralhados pela polícia dentro do
carro numa emboscada quando ainda não tinham 30 anos (cena que abre o
espetáculo).
O musical baseado na
saga do casal tem texto de Ivan Mitchell, letras de Don Black e música de Frank
Wildhorn, foi traduzido e teve a versão das letras das músicas por Rafael
Oliveira e recebeu criativa transposição cênica de João Fonseca apresentada no 033
Rooftop.
Enriquecem a equipe criativa do espetáculo:
Thiago Gimenes na excelente direção musical, Keila Bueno na direção de movimento
e na coreografia, além de Tocko Michelazzo (design de som), Paulo César
Medeiros (design de Luz), Cesar Costa (cenografia), João Pimenta (figurinos) e
Marcos Padilha (visagismo).
Tudo funciona neste
musical adulto que tem seu ponto alto no elenco e na banda de músicos.
O quarteto principal
da história é formado por Bonnie, Clyde, Buck, irmão de Clyde e sua esposa
Blanche. Claudio Lins despe-se de seu charme de galã para interpretar o
abobalhado Buck de forma comovente; Adriana Del Claro empresta sua ótima dicção
e a bela voz para compor Blanche. Eline Porto e Beto Sargentelli são igualmente
notáveis como Bonnie e Clyde, emprestando humanidade e verossimilhança às duas
controversas personagens. Todos atuam e cantam muito bem.
Não há como não
destacar as participações de Gui Giannetto (belíssima voz) como o Pastor e
Mariana Gallindo como Emma, a mãe de Bonnie.
Bonnie & Clyde
adquire especial destaque entre os musicais da Broadway que se apresentam nos
palcos paulistanos, a maioria sendo cópia fiel dos originais, tendo seu ponto
alto na tecnologia avançada usada, com altos custos de produção, elencos
numerosos e dramaturgias açucaradas dignas das sessões da tarde da TV Globo.
Ao contrário, Bonnie & Clyde tem personalidade, boa música e conta uma história verídica que, além de entreter, faz refletir sobre como aqueles tempos sombrios contribuíram para que aquele jovem casal praticasse as ações criminosas.
Infelizmente o espetáculo saiu de cartaz no último domingo e não há previsão de seu retorno ao cartaz.
15/05/2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário