“Ah, que dia feliz,
este terá sido mais um dia feliz!”
(Winnie)
O requinte áudio
visual (trilha sonora, cenografia, iluminação, figurinos e visagismo) já é uma
marca registrada do encenador Cesar Ribeiro desde Esperando Godot
montado em 2017 na pequena Sala Piscina do extinto Viga Espaço
Cênico, passando por O Arquiteto e o Imperador da Assíria
(2021) e culminando com Dias Felizes em 2023.
Como nas montagens
anteriores o encenador assina a potente trilha sonora que vai desde Caetano
Veloso (Cucurrucucu Paloma) até The Beatles (Tomorrow Never Knows);
volta a trabalhar com Telumi Hellen (figurinos), J.C. Serroni (a caótica
cenografia com a famosa montanha que abriga a personagem Winnie e cabeças
espalhadas pelo chão). A significativa e bela iluminação que comenta toda a
ação da peça desta vez é de Domingos Quintiliano e o impactante visagismo é de
Louise Helene.
De nada adiantaria
tanto apuro visual se não houvesse elenco à altura do insólito texto de Samuel
Beckett, traduzido por Fábio de Souza Andrade (Ribeiro também usou a tradução
de Souza Andrade em sua encenação de Esperando Godot).
Helio Cícero
encarrega-se do papel de Willie, o companheiro de Winnie, com pequenas, mas
significativas, literalmente, “saídas do buraco” onde parece viver.
Todas as honras para
Lavínia Pannunzio, atriz de tantos méritos em outras encenações que aqui atinge
sua plenitude como intérprete. Sua composição de Winnie quase que
exclusivamente focada nas expressões faciais é de incrível precisão fazendo o
público sentir sua extrema solidão e as tentativas para sair desse isolamento.
A Winnie de Lavínia
se soma e, a meu modo de ver, supera em sutileza aquelas que já vi anteriormente:
Fernanda Montenegro (1996), Norma Bengell (2010) e a excelente atriz gaúcha
Sandra Dani (2014).
Enterrada até a
cintura no primeiro ato e depois até o pescoço no segundo ato, a Winnie de
Lavínia Pannunzio incomoda, emociona e até nos faz sorrir de suas misérias
humanas, que também são nossas.
O espetáculo de Cesar
Ribeiro e a interpretação de Lavínia Pannunzio ficarão para sempre na memória
dos poucos privilegiados espectadores que tiveram a possibilidade de assistir a
mais esse grande momento do nosso teatro que cumpriu curta temporada no Teatro
Cacilda Becker.
Que venham novas
temporadas!
01/08/2023
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