domingo, 6 de agosto de 2023

TRINTA ANOS ESTA NOITE ou O ESPELHO NEGATIVO

 


Tive uma emocionante e gratificante experiência na tarde de ontem ao assistir ao espetáculo/palestra/bate papo de e com Dulce Muniz, grande atriz nem sempre lembrada pela crítica, dona de imenso talento e, principalmente, batalhadora incansável pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão. A lucidez e a memória privilegiada de Dulce são dignas de respeito e admiração, além de serem patrimônio não só da história do teatro paulistano, mas também da história do nosso país.

A atriz inicia o espetáculo comentando sobre a síndrome de fibromialgia que a abateu tempos atrás e segue falando de sua trajetória desde a infância em São Joaquim da Barra e as primeiras dores que sentiu, tanto físicas como morais (ao ter que devolver uma boneca que haviam lhe dado de presente), passando pela adolescência quando ocorre o golpe civil militar de 1964 e segue adiante até os nossos dias.

Por ter quase a mesma idade de Dulce me identifiquei com vários aspectos de sua trajetória: o grupo escolar, as professoras do primário, as aulas de latim e canto orfeônico e a descoberta do mundo por meio de alguns professores iluminados.

A emoção permeia toda a apresentação e, em especial, em cenas como aquela sobre Billie Holiday e as recriações de interpretações marcantes da vida da atriz.

Dulce Muniz é acompanhada ao violino por Beto Kapta e a ambientação cênica que inclui objetos, discos, figurinos e bandeiras caros à atriz é de autoria do Núcleo 184.


Eu assisti ao primeiro trabalho de Dulce Muniz no teatro paulistano, trata-se do Teatro de Jornal de 1970, concebido por Augusto Boal no Teatro de Arena onde ela tinha por companheiros de cena Edson Santana, Celso Frateschi, Denise Falotico (hoje, Del Vecchio), Elísio Brandão e Helio Muniz. Éramos todos jovens e acreditávamos que íamos mudar o mundo!

Dulce Muniz se apresenta em seu teatro que leva o nome de Teatro Studio Heleny Guariba, em homenagem à sua professora e diretora teatral, barbaramente torturada, morta e corporalmente desaparecida pelas mãos masmorrentas da ditadura civil militar.

Ao final do espetáculo, a emoção só se intensificou com a conversa com o público que revelou para mim a presença de Elza com quem tive grande contato em 1965 durante as apresentações de Morte e Vida Severina no TUCA e também contou com um apaixonado relato do muito querido Rogerio Tarifa sobre Dulce Muniz.

HAJA CORAÇÃO!

 

06/08/2023

 

 

 

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