“Seria bom que cada
pessoa morta pudesse ver as suas próprias feições!
Eu fiquei muito feia? Eu queria tanto me
ver morta!”
(Madame Clessi)
E mais uma vez Ione
de Medeiros e o Grupo Oficcina Multimédia de Minas Gerais dão um banho
de criatividade e talento nos palcos paulistanos. Em 2019 foi com Boca de
Ouro e agora, mais uma vez com Nelson Rodrigues, é a vez de Vestido de
Noiva.
Aos 80 anos de idade,
Vestido de Noiva continua tão surpreendente e instigante como quando foi
criada.
A encenadora se vale
da multiplicação de atores para a mesma personagem: são duas Alaídes, dois
Pedros e três mulheres de véu que surgem no palco para contar a trama imaginada
por Nelson Rodrigues.
Os poucos objetos de
cena limitam-se a mesas e cadeiras que exercem várias funções durante a
representação.
Um excelente e
sofisticado recurso audiovisual, em parte realizado domesticamente durante a
pandemia, conduz a ação que também é comentada por um narrador que reproduz boa
parte das rubricas do texto e facilita a compreensão dos três planos
(alucinação, memória e realidade) em que a história se desenrola.
Uma dinâmica
movimentação cênica do elenco também é um dos pontos altos do espetáculo, haja
vista a incrível cena do atropelamento que é repetida várias vezes durante a
apresentação.
Camila Felix e
Priscila Natany representam Alaíde com muita desenvoltura e em perfeita
sincronia de movimentos, sendo que Camila torna-se a irmã Lucia na final da
peça.
Henrique Torres
Mourão (na maior parte da trama) e Júnio de Carvalho encarregam-se da
personagem de Pedro, marido de Alaíde.
A mulher de véu surge
nas peles de Henrique, Júnio e Jonnatha Horta Fortes. Este último, que já foi
uma poderosa Dona Guigui em Boca de Ouro, volta com uma ótima composição
da enigmática e debochada Madame Clessi, uma das personagens mais emblemáticas
do universo rodrigueano.
A mãe e o pai de
Alaíde são representados por Júnio de Carvalho e Victor Velloso,
respectivamente.
O elenco presencial e
aquele que aparece nos vídeos revezam-se nos papeis de repórteres, de médicos,
de presentes no velório e no casamento e do narrador.
A guerreira Ione de
Medeiros assina, além da direção, a concepção cenográfica e divide a autoria da
trilha sonora com Francisco Cesar e a concepção e edição de vídeo com Henrique
Torres Mourão.
Quanto à cenografia
cabe notar que Ione fez uma das melhores ocupações já vistas no pequeno e
limitado palco do CCBB.
Vestido de Noiva é um espetáculo
visualmente muito bonito e perfeito na tradução cênica do texto de Nelson
Rodrigues, mesmo sem explicitar cenograficamente os três planos criados pelo
dramaturgo.
Viva o teatro que tem
o dom (único, por sinal, entre todas as artes) de somar a criatividade dos
fazedores com a imaginação dos espectadores, dando como resultado um espetáculo
do quilate deste Vestido de Noiva.
VESTIDO DE NOIVA está
em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de 18/08 a 24/09 às quintas e
sextas às 19h e aos sábados e domingos às 17h.
NÃO DEIXE DE VER!
18/08/2023
Excelente 👏👏👏👏👏
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