A caminho do SESC
Belenzinho numa gentil carona oferecida pela Marcia Marques comentei que a
julgar pelos últimos espetáculos a que assisti estava achando a temporada morna;
não propriamente ruim; mas morna, fato que me desenergizava e tirava a vontade
de ir ao teatro. O copo estava vazio e eu gostaria de enchê-lo rapidamente.
E foi o COPO VAZIO
que aqueceu para mim a temporada morna.
Duas qualidades
afloraram já nos primeiros minutos do espetáculo, que é livremente inspirado no
livro de Natalia Timerman:
- O belo resultado
estético em cena da diferença de altura entre o muito alto Vinicius Neri e a
pequenina Carolina Haddad. A primeira cena dele a entrelaçando por trás, sob
uma luz lilás, sintetiza tudo o que virá depois.
- Ao introduzir o
ator e a atriz em cena, narrando os fatos ocorridos entre as personagens Mirela
e Pedro, a adaptadora Angela Ribeiro resolveu o difícil problema que é transpor
narrativa de romance para linguagem teatral. Há momentos saborosos de
metalinguagem no espetáculo, quando os intérpretes (ator e atriz) questionam as
atitudes das personagens (Pedro e Mirela).
Como já ocorreu em
outros trabalhos (“Ato a Quatro”/2015, “Chernobyl”/2019 e “O
Beijo no Asfalto”/2019) a direção de Bruno Perilo é delicada e elegante,
qualidades estas que caracterizam o seu estilo de trabalho. Mesmo ao tratar de
um assunto espinhoso que é a desilusão/depressão/revolta de Mirela com o
desaparecimento abrupto de Pedro, Bruno o faz com delicadeza e sem nenhum
arroubo melodramático, para isso conta com a excelente interpretação de
Carolina Haddad. Outra demonstração dessa elegância está na forma bonita e
poética como o encenador apresenta a cena de relação sexual entre os
personagens.
Os cuidados da
produção podem ser observados pelos profissionais nela envolvidos: Chris Aizner
assina o cenário minimalista; a direção de movimento do elenco de Marina Caron
preenche harmoniosamente o grande espaço da sala multiuso do SESC Belenzinho;
Gabriele Souza (filha do querido Jorge do antigo Viga) é responsável pela
colorida iluminação; canções conhecidas que ilustram as ações fazem parte da
trilha sonora criada por Pedro Seneghini e as imagens projetadas são mais um
admirável trabalho dos Cafofos (André Grynwask e Pri Argoud).
Carolina Haddad
realiza um belo trabalho como Mirela, sempre à beira de um ataque de nervos e
Vinicius Neri mostra firmeza como Pedro, apesar de ser um ator bastante jovem.
As qualidades do belo
livro de Natalia Timerman estão muito bem representadas no espetáculo de Bruno
Perillo.
A ALMA SE FORTALECE QUANDO ASSISTIMOS A UM BOM ESPETÀCULO.
Em tempo: Tive o
prazer de sentar ao lado de Natalia Timerman, autora do livro que inspirou a
peça e também de “As Pequenas Chances”, pungente relato sobre os últimos
dias e morte de seu pai.
COPO VAZIO está em
cartaz no SESC Belenzinho até 23/06 com sessões às sextas e aos sábados às
21h30 e aos domingos às 18h30,
NÃO DEIXE DE VER
10/06/2024
Nenhum comentário:
Postar um comentário