segunda-feira, 3 de junho de 2024

TIO VÂNIA

 

 

Um brinde de champanhe a Anton Tchekhov de quem falamos MUITO bem, mais de cem anos depois de sua morte e com certeza se continuará falando daqui a outros cem anos. Ele abriu caminhos e o teatro seguiu.

Uma pessoa desavisada que vá assistir a uma peça que trata da posição da mulher na sociedade, da questão ambiental, das diferenças entre o rural e o urbano e da eterna questão das relações humanas ficará surpresa ao saber que esse texto foi escrito há cento e vinte quatro anos. Tio Vânia, assim como os outros textos de Tchekhov, é um clássico e como tal deve ser tratado.

Eduardo Tolentino de Araújo é profissional talhado para encenar Tchekhov; já o fez com Ivanov (1998), O Jardim das Cerejeiras (2019) e as curtas O Urso e O Pedido de Casamento (virtualmente em 2021) e agora nos presenteia com essa pérola que é a montagem de Tio Vãnia.

Um Tchekhov perfeito no ritmo suave e lento requerido pelos personagens da trama que precisam de  silêncio entre uma frase e outra. O tom ocre presente no cenário e nos figurinos é belamente banhado pela iluminação de Wagner Pinto.



O elenco impecável atua dentro do clima tchekhoviano desde a linda abertura com as falas da criada Babá até o monólogo final de Sonia, um dos mais belos de toda literatura teatral.

Camila Czerkes desfila Helena pelo cenário com classe e talento, Tato Fischer empresta leveza e humor para Bexiga.

Os pequenos papeis carinhosamente reservados para as grandes atrizes Walderez de Barros (Babá) e Lilian Blanc (Maria) são um verdadeiro presente tanto para o restante do elenco como para o público.

Bruno Barchesi tem um de seus melhores desempenhos desde que está no TAPA, ampliando a importância do personagem do médico Astrov que é um grande defensor do meio ambiente.

Zecarlos Machado é um bravíssimo ator, porém, a meu ver, sua composição de Serebriakov é muito gritada, destoando daquelas do restante do elenco.

Acredito que quando imaginou a figura de Tio Vânia há 124 anos, Tchekhov deve ter se inspirado em um ator ainda não nascido de nome Brian Penido Ross. Revoltado, mas ao mesmo tempo acomodado e muito sofrido, Brian oferece ao público todas as nuances desse icônico personagem do dramaturgo russo.

Sonia tem todas as características do lado melancólico e introspectivo do universo de Tchekhov. É personagem que oferece grande chance interpretativa para uma atriz e Anna Cecília Junqueira agarrou a oportunidade com força: pequenina no tamanho, mas imensa no talento, interpreta Sonia indo das tímidas falas no início da peça até a grande emoção do monólogo final.

O Tio Vânia de Tolentino é um Tchekhov perfeito e maduro merecendo todas as honrarias reservadas ao teatro paulistano.

Infelizmente boa parte do público presente na sessão de sexta feira (31/05) às 15h no SESC Santana não compreendeu a sutileza do espetáculo, conversando durante o mesmo, ligando e atendendo o famigerado celular. Por que essa gente não fica em caso vendo BBB e deixa os interessados curtirem obra tão significativa e bela?

 

TIO VÂNIA está em cartaz no SESC Santana até 16/06 de quinta a sábado às 20h e domingos às 18h.

ESPETÁCULO DE ALTO VALOR ARTÍSTICO QUE PRECISA SER PRESTIGIADO!

 

03/06/2024

 

 

 

 

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