Um brinde de
champanhe a Anton Tchekhov de quem falamos MUITO bem, mais de cem anos depois
de sua morte e com certeza se continuará falando daqui a outros cem anos. Ele
abriu caminhos e o teatro seguiu.
Uma pessoa desavisada
que vá assistir a uma peça que trata da posição da mulher na sociedade, da
questão ambiental, das diferenças entre o rural e o urbano e da eterna questão
das relações humanas ficará surpresa ao saber que esse texto foi escrito há
cento e vinte quatro anos. Tio Vânia, assim como os outros textos de
Tchekhov, é um clássico e como tal deve ser tratado.
Eduardo Tolentino de
Araújo é profissional talhado para encenar Tchekhov; já o fez com Ivanov (1998),
O Jardim das Cerejeiras (2019) e as curtas O Urso e O Pedido
de Casamento (virtualmente em 2021) e agora nos presenteia com essa pérola
que é a montagem de Tio Vãnia.
Um Tchekhov perfeito
no ritmo suave e lento requerido pelos personagens da trama que precisam de silêncio entre uma frase e outra. O tom ocre
presente no cenário e nos figurinos é belamente banhado pela iluminação de
Wagner Pinto.
O elenco impecável
atua dentro do clima tchekhoviano desde a linda abertura com as falas da criada
Babá até o monólogo final de Sonia, um dos mais belos de toda literatura
teatral.
Camila Czerkes
desfila Helena pelo cenário com classe e talento, Tato Fischer empresta leveza
e humor para Bexiga.
Os pequenos papeis
carinhosamente reservados para as grandes atrizes Walderez de Barros (Babá) e
Lilian Blanc (Maria) são um verdadeiro presente tanto para o restante do elenco
como para o público.
Bruno Barchesi tem um
de seus melhores desempenhos desde que está no TAPA, ampliando a importância do
personagem do médico Astrov que é um grande defensor do meio ambiente.
Zecarlos Machado é um
bravíssimo ator, porém, a meu ver, sua composição de Serebriakov é muito
gritada, destoando daquelas do restante do elenco.
Acredito que quando
imaginou a figura de Tio Vânia há 124 anos, Tchekhov deve ter se inspirado em
um ator ainda não nascido de nome Brian Penido Ross. Revoltado, mas ao mesmo
tempo acomodado e muito sofrido, Brian oferece ao público todas as nuances
desse icônico personagem do dramaturgo russo.
Sonia tem todas as
características do lado melancólico e introspectivo do universo de Tchekhov. É
personagem que oferece grande chance interpretativa para uma atriz e Anna
Cecília Junqueira agarrou a oportunidade com força: pequenina no tamanho, mas
imensa no talento, interpreta Sonia indo das tímidas falas no início da peça
até a grande emoção do monólogo final.
O Tio Vânia de
Tolentino é um Tchekhov perfeito e maduro merecendo todas as honrarias reservadas ao
teatro paulistano.
Infelizmente boa
parte do público presente na sessão de sexta feira (31/05) às 15h no SESC
Santana não compreendeu a sutileza do espetáculo, conversando durante o mesmo,
ligando e atendendo o famigerado celular. Por que essa gente não fica em caso
vendo BBB e deixa os interessados curtirem obra tão significativa e bela?
TIO VÂNIA está em
cartaz no SESC Santana até 16/06 de quinta a sábado às 20h e domingos às 18h.
ESPETÁCULO DE ALTO
VALOR ARTÍSTICO QUE PRECISA SER PRESTIGIADO!
03/06/2024
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