1, A título de introdução
Anton Tchekhov (1860-1904) é um autor bastante frequente nos palcos paulistanos. Nos meus registros ele comparece pela primeira vez em 1972 com a agônica versão de “As Três Irmãs” realizada por José Celso Martinez Corrêa e a partir daí foram mais de quarenta espetáculos com textos de sua autoria, ou adaptações dos mesmos e a peça mais escolhida pelos encenadores é “A Gaivota”, talvez por tratar também de assuntos relativos às artes cênicas.
Entre as montagens mais bem sucedidas desse texto é necessário lembrar daquela inesquecível dirigida por Chiquinho Medeiros em 1994, de “Da Gaivota” de 1998, dirigida por Daniela Thomas e da memorável adaptação realizada por Enrique Diaz em 2007, com o sub título de “Tema Pra Um Conto Curto”.
2. A Gaivota dirigida por Guillermo Cacace na MITsp 2025
E estamos diante de mais uma adaptação memorável do texto de Tchekhov, talvez a mais radical, e com a capacidade de nos deslumbrar e tirar do chão como toda verdadeira obra de arte. Quem assina a adaptação é Ignacio Fernandez.
Cinco atrizes sentadas em uma mesa, cercadas de espectadores por todos os lados interpretam as cinco personagens principais da peça: a matriarca Arkádina, seu filho Kóstia, a criada Masha, Boris Trigorin, namorado de Arkádina e Nina, a moça com pretensão de ser atriz.
Classificar a interpretação das cinco atrizes de excepcional é pouco. Trata-se de uma verdadeira aula da arte de interpretar pouco vista em nossos palcos. São sempre as mulheres as verdadeiras joias do teatro. Desconhecendo a relação atriz/personagem, apenas cito os nomes delas: Raquel Ameri, Marcela Guerty, Clarissa Korovsky, Romina Paduan e Muriel Pago. Todas maravilhosas, sem distinção.
A direção do argentino Guillermo Cacace é precisa e concentra toda a atenção no trabalho das atrizes, sem descuidar da ótima trilha sonora presente nos intervalos da ação e da iluminação da cena.
Ao se ouvir o tiro que anuncia a morte de Kóstia e o final da peça, a ação continua por alguns momentos além do original de Tchekhov permitindo mostrar o desespero de Arkádina diante do filho morto.
As luzes da plateia acendem, as atrizes permanecem com o semblante trágico do fim da peça. Por quase cinco minutos o público permanece em silêncio se solidarizando com a dor daquelas personagens. Com os primeiros aplausos as atrizes saem das máscaras das personagens e agradecem a ovação do público.
Se a MITsp tivesse trazido apenas este fantástico espetáculo e o moçambicano “Vagabundus” já teria cumprido o seu papel.
A peça está sendo encenada na cúpula do Theatro Municipal. São apenas 120 lugares e tem muita gente da fila da espera frustrada por não conseguir entrar, por isso vale a pena ir mais cedo para conseguir assistir a este verdadeiro tesouro do teatro.
Últimas sessões nos dias 17 e 18 às 19h.
Notas:
- Havia muitas pessoas do SESC presentes. Quem sabe eles se inspiram pra trazer esse espetáculo para uma temporada maior ou talvez no Mirada de 2026.
- Outra ideia seria uma montagem local dessa criativa adaptação/encenação.
- Minha posição em relação à atriz não permitiu que eu fotografasse Nina.
16/03/2025
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