UM DILÚVIO DE TALENTOS:
- Um bando de mulheres: Marina Corazza (autora), Sandra Corveloni e Maristela Chelala (diretoras), Adriana Mendonça e Rita Pisano (atrizes), Gabriele Souza (iluminadora), Anne Cerutti (cenógrafa e figurinista),
- Muito bem acompanhadas por alguns homens: Anderson Negreiro, André Garolli, Heitor Goldflus (atores) e um “tal de” Henrik Ibsen, autor da peça “Casa de Bonecas” que inspirou o espetáculo.
Ibsen (1828-1906) escreveu “Casa de Bonecas” em 1879, provocando grande polêmica ao denunciar a situação da mulher na sociedade burguesa da época e concluir a peça com a libertação da protagonista Nora ao abandonar o lar batendo a porta em sua saída.
Quase 150 anos depois a causa feminista ainda precisa ser defendida. Marina escreveu o lúcido e belo texto de “Nora e a Porta”, ora citando a obra do dramaturgo norueguês, ora narrando os fatos, ora os interpretando e ora colocando atrizes e atores como eles mesmos improvisando sobre a situação mostrada na peça ( na verdade estas cenas foram improvisadas nos ensaios para a seguir serem incorporadas ao texto). Marina juntou essa miscelânea de formas de maneira harmoniosa criando um dos seus textos mais bem realizados.
Maristela e Sandra fizeram a transposição cênica desse tesouro dramatúrgico com muita criatividade, haja vista a uniformidade das interpretações e cenas como a festa à fantasia do segundo ato (belamente iluminada por Gabriele) e a cena estática do terceiro ato. A colaboração de Anne na cenografia “clean” e nos figurinos é digna de nota.
Adriana empresta vigor a na interpretação da amiga de Nora e Rita que vem acumulando boas interpretações tem aqui talvez a mais marcante de toda sua carreira, oscilando entre a firmeza e a insegurança da personagem Nora, narrando com o devido distanciamento certas cenas e incorporando santos e demônios na frenética dança na festa à fantasia.
Em peça tão feminista, não há mal em deixar os homens por último: Heitor tem bons momentos como o agiota Roberto; Anderson mostra sua versatilidade como ator ao interpretar o elegante amigo Rodrigo, que o diga seu último trabalho em “Mário Negreiro” e Garolli também mostra sua versatilidade ao interpretar o marido Marcelo que chega a se fantasiar de super homem na festa e até a ensaiar alguns passos de dança propositalmente desajeitados. Na ala masculina cabe lembrar da excelente trilha sonora garimpada por Rafael Thomazini que inclui até a imbatível “My Funny Valentine” de Rodgers e Hart.
Nora e a Porta é um espetáculo a que se assiste com muito prazer e faz pensar sobre a situação da mulher na sociedade contemporânea, ali autoria, direção, atuação, luz, cenografia, figurinos e trilha sonora somaram-se de forma perfeita.
Grande momento desta temporada de 2025
A peça está em cartaz no Espaço Cênico do SESC Pompeia até 21 de março de terça a sexta às 20h30.
ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL
05/03/2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário