domingo, 9 de março de 2025

VERME

     É preciso por o dedo na ferida e raspar.

    Foi isso que Luiz Campos, da Cia. Los Puercos, fez com muita coragem ao narrar a sua dolorosa experiência durante os sete anos em que esteve no militarismo em um texto poderoso de teatro documentário. Ele mostra sua infância, o sonho romântico de ser soldado e a decepção com a carreira militar ao presenciar tanta agressão, tanta autoridade tacanha e tantas injustiças. Ao se desligar do exército o autor optou pela carreira teatral.

     Texto bastante potente e corajoso recebeu uma tradução cênica irregular onde pouco se sente sua potência e coragem. Técnicas de teatro documentário, como projeções de documentos, narrações e não só interpretações dos atores, ficaram em segundo plano enfraquecendo o resultado final. Problemas de ritmo na apresentação a que assisti também comprometeram a fruição do espetáculo.

     Luiz como protagonista da própria história alcança um bom resultado interpretativo, fato que não acontece com os outros intérpretes, principalmente com as duas atrizes que não têm o tipo físico indicado para os seus papéis. Conheço o talento de Giovanna Marcomini de outras montagens, no entanto aqui, ao interpretar um truculento chefe militar, ela não rende em cena, tanto por seu tipo físico como pelo caráter naturalista dado à personagem.

     Esses senões, todos passíveis de eliminação, não impedem que se recomende o trabalho, realizado com cuidado profissional e muita dignidade. E mais que isso, muito necessário nestes tristes dias em que vemos a truculência da extrema direita batendo à nossa porta.

     Ah! Não custa lembrar que foi uma criança que usou o nome que dá título à peça para definir um militar autoritário.

VERME está em cartaz na Casa de Teatro Maria José de Carvalho às sextas e sábados às 20h e aos domingos às 19h até 30 de março.

09/03/2025



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