domingo, 8 de setembro de 2013

EM BUSCA DA DRAMATURGIA BRASILEIRA



     O final da década de 1960 foi pródigo no surgimento de novos dramaturgos brasileiros: no curto espaço entre 1968 e 1969, Antonio Bivar, Leilah Assumpção, Isabel Câmara, Consuelo de Castro e José Vicente tiveram suas primeiras peças (geralmente com apenas duas personagens) montadas em São Paulo. Somam-se a eles nos anos posteriores: Carlos Alberto Soffredini, Mário Prata,  Luís Alberto de Abreu, Timochenko Wehbi, Flávio Marcio, Mauro Chaves ,Naum Alves de Souza, Mauro Rasi e tantos outros com muitas obras importantes que caíram no esquecimento e mereciam uma revisão. Isto sem contar os já clássicos da dramaturgia brasileira, que com exceção de Nelson Rodrigues e Plínio Marcos, são raramente revisitados.
 
     Louve-se então a iniciativa da atriz/produtora Ana Elisa Mattos que fez uma pesquisa sobre a dramaturgia brasileira em busca de um texto para a sua próxima produção. Foi encontrá-lo numa produção do ano de 1987 com o título de Tu Dirás Que É a Morte, Eu Direi que É a Vida, escrita e dirigida na época por José Antonio de Souza. Rebatizada como Coração Bandoleiro e agora com a direção de Roberto Lage a peça está em cartaz no Teatro Cacilda Becker.
     Trata-se de uma comédia corrosiva cujo mote é o poder do dinheiro na relação das pessoas; tema sempre atual, haja vista a corrupção que grassa em nossas terras. A montagem de Lage é bastante dinâmica: abusa dos black outs na primeira parte (devido às constantes entradas e saídas de uma incômoda cama hospitalar), mas depois se agiliza, num ritmo vertiginoso de história em quadrinhos. Os atores seguem esse ritmo em interpretações nervosas e exageradas. É difícil entender a razão pela qual falam tão alto, dando a impressão que desejam que suas vozes atinjam o público acomodado no anfiteatro do Theatro Municipal! O volume de voz empregado pelo elenco soa artificial e discursivo, tornando-se previsível e até irritante. Sofrem com esse tratamento, principalmente, a atriz que interpreta Leonora (Luciana Ramanzini, muito parecida com Renata Zhaneta) que , convenhamos, tem uma inverossímil energia para uma quase moribunda e Marco Aurélio Campos (Gabriel) que além de gritar suas falas abusa dos gestos de garoto rebelde a la James Dean. Os melhores momentos da peça ficam por conta dos diálogos entre os veteranos Calixto de Inhamuns e Maria do Carmo Soares que se falassem mais baixo renderiam muito mais, ressaltando uma divertida cumplicidade cênica e seus respectivos tempos de comédia. O cenário bastante limpo de Heron  Medeiros é bonito e funcional, permitindo, com o auxílio da iluminação de Wagner Freire, a agilidade da encenação requerida pela direção.
     Coração Bandoleiro é um bom divertimento que ao longo da temporada e com alguns ajustes, pode render muito mais.
     Em cartaz no Teatro Cacilda Becker até 13 de outubro, às sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 19h.

Um comentário:

  1. Também senti mais verdade nas cenas entre Calixto e Maria do Carmo, chegavam até mim de maneira mais verossímil.

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