TEATRÃO SIM, E DAÍ?
No
ano 2000, sob a direção de Elias Andreato, Paulo Autran e Cassio Scapin
representaram esta peça do norte americano Jeff Baron no Teatro Augusta. Com
nova tradução de Rachel Ripani (a anterior era de Paulo Autran), a peça volta
ao cartaz em nova roupagem desta vez dirigida por Cassio Scapin. Tenho boa
lembrança da primeira montagem, mas a atual não fica nada a dever a ela desde a
encenação até o trabalho dos dois intérpretes.
O
texto é bastante esquemático formado de pequenas cenas, cada uma delas
mostrando uma visita que o jovem Ross faz ao Sr. Green por conta do cumprimento
de pena a ele imposta por ter atropelado esse senhor. A sensação inicial de rejeição
de ambas as partes vai se transformando em uma amizade aonde cada um deles vai
revelando seus segredos e fraquezas criando conflitos que se resolvem com o happy end típico de textos comerciais
norte americanos. Para que se obtenham bons resultados com esse tipo de texto é
imprescindível que as interpretações sejam confiadas a bons e carismáticos atores
e é exatamente o que acontece aqui.
Após
12 anos de afastamento dos palcos é com muito prazer que testemunhamos a volta
de Sergio Mamberti num papel feito sob medida para ele. Tirando partido de
todas as nuances que a personagem oferece, Mamberti nos encanta e ao mesmo
tempo nos irrita com as esquisitices e preconceitos do Sr. Green. Ao seu lado
na peça e à sua altura no talento, Ricardo Gelli compõe Ross com muita
propriedade, reafirmando-se como um dos melhores e mais versáteis atores da cena paulistana. A solidão -denominador comum das duas personagens- é de alguma maneira
mitigada à medida que eles vão se conhecendo e aceitando um ao outro e os dois
atores transmitem as emoções para o público que em muitos momentos tem que
recorrer a um lenço para enxugar lágrimas que insistem em cair.
Como
produto de teatro comercial o acabamento do espetáculo é impecável desde os
figurinos de Fabio Namatami, passando pela iluminação poética de Wagner Freire,
pela trilha sonora de Daniel Maia que remete a canções judaicas e pelo cenário
realista de Chris e Nilton Aizner formado pela sala de visitas do Sr. Green que
tem ao fundo um sugestivo painel com a imagem difusa em azul do skyline novaiorquino.
Este
espetáculo é ótimo exemplo do que se acostumou a chamar de “bom teatrão”: texto
palatável pelo grande público, mas de boa qualidade e tocando de leve em
questões sociais (neste caso os preconceitos); direção correta e intérpretes
que merecem a ida ao teatro. Palmas para Cassio Scapin, Sergio Mamberti e
Ricardo Gelli!
VISITANDO
O SR. GREEN está em cartaz no Teatro Jaraguá às sextas (21h30), sábados (21h) e
domingos (19h) até 19 de julho.
29/04/2015