sábado, 19 de março de 2016

GILBERTO GIL, AQUELE ABRAÇO – O MUSICAL




OITO HOMENS NOTÁVEIS

Eu, tu e todos no mundo
No fundo, tememos por nosso futuro
ET e todos os santos, valei-nos
Livrai-nos desse tempo escuro
(Extra – Gilberto Gil)

        Vivemos dias tensos. Um país à beira do precipício e uma avalanche de ódio e intolerância de todos os lados. Esta sexta feira (18/03/2016) foi um dia pesado com a perspectiva de confrontos na Avenida Paulista durante a manifestação que iria acontecer à tarde. Foi com certa apreensão que sai de casa para me dirigir ao Teatro Procópio Ferreira, uma vez que desceria do metrô na Estação Consolação, em pleno olho do furacão. Na falta de ônibus desci a Augusta a pé sendo presenteado com uma enxaqueca durante o trajeto. Foi nessas condições que me sentei nas desconfortáveis poltronas daquele teatro para assistir ao espetáculo.
        Fazia muito tempo que não levava tamanho banho de alegria, energia e esperança. Oito atores /cantores/instrumentistas nos brindam com canções de Gilberto Gil dramaturgicamente bem amarradas por Gustavo Gasparani que também dirige a montagem. Os oito artistas fazem tudo muitíssimo bem: cantam, movimentam-se no palco, tocam vários instrumentos e interpretam os versos e canções com humor ou dramaticamente. Impossível não se apaixonar e se envolver com tanto talento. Impossível também destacar este ou aquele nome porque todos são excelentes.
        Gasparani encontrou ótimas soluções cênicas para ilustrar as canções de Gil, como aquelas de Se Eu Quiser Falar com Deus e de Refavela, para citar apenas duas. Muitas canções são apenas citadas e outras são cantadas integralmente em um belo trabalho do diretor musical Nando Duarte. Nota dez também para as belas coreografias de Renato Vieira. O cenário de Helio Eichbauer e os figurinos de Marcelo Olinto completam este bem sucedido musical que não é uma biografia de Gil, mas um grato exemplo de musical que ilustra a obra desse grande artista, fugindo da já desgastada fórmula do musical biográfico.
        Durante o espetáculo me emocionei até as lágrimas durante vários momentos, relembrando de uma época em que a música brasileira era tão criativa; mas com a força daqueles oito homens notáveis ao reviver esse passado vislumbrei uma esperança no futuro saindo do teatro cheio de energia e acreditando que a arte, a cultura e a educação ainda podem fazer muito por este Brasil tão desesperançado.

        Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
         Transformai as velhas formas do viver
         Ensinai-me, ó, pai, o que eu ainda não sei
        Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei
                                       (Tempo Rei)

        Assistindo ao espetáculo fica claro o porquê de Gasparani ter batizado seu trabalho com o belo subtítulo de O Poeta, a Canção e o Tempo.
        Tomei o ônibus para subir a Augusta até a Paulista de maneira bem diferente: cheio de energia e esperança. Na Paulista ainda havia alguns jovens também esperançosos que vieram defender seus ideais. Este Brasil ainda vai dar certo!
        Ao chegar em casa fui direto para os discos do Gil e os ouço até agora.

         Veio gente me aplaudir, veio gente vaiar
         Veio gente dormir nas cadeiras
         Veio gente admirar meu talento
         Veio gente adivinhar meu tormento
         Veio gente me xingar, veio gente me amar
         Veio gente disposta a se matar por mim
                                                                  (Febril)


GILBERTO GIL, AQUELE ABRAÇO – O MUSICAL está em cartaz no Teatro Procópio Ferreira às quintas e sextas (21h), sábados (18h e 21h30) e domingos (18h) até 29 de maio. ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!

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