segunda-feira, 1 de agosto de 2016

FLUXORAMA


        Quem já não perdeu o sono no meio da noite? Quando isso acontece surgem aqueles pensamentos desordenados sempre negativos envolvendo pessoas queridas em situações complicadas, o medo da morte, a saúde que pode piorar a qualquer instante, a pessoa amada que “com certeza” irá traí-lo.
        Parece que foi em situações como essa que Jô Bilac se inspirou para escrever FLUXORAMA ora em cartaz no Sesc Ipiranga. A peça trata do fluxo de pensamento de quatro personagens em situações bastante distintas:
        AMANDA: Uma mulher que está perdendo gradativamente os sentidos a começar pela audição. Seus pensamentos giram em torno de como agir para que as pessoas não percebam suas deficiências. Juliana Galdino está absolutamente impecável no papel.


        LUIZ GUILHERME: Um homem que sofreu acidente de carro e está confinado totalmente só nos destroços repensa sua vida e pensa na morte solitária que está por vir. Luiz Henrique Nogueira lembrando a Winnie de Dias Felizes do Samuel Beckett.


        VALQUÍRIA: Em contraponto à imobilidade de Luiz Guilherme, esta mulher está em pleno movimento correndo numa maratona. Pleno teatro físico com Marjorie Estiano.


        MEDUSA: Na mais longa e melhor realizada cena do conjunto, um homem está em seu banheiro tentando se concentrar para meditação. Aqui pensamentos negativos surgem a mil por hora em situação bastante parecida àquela de quando estamos insones. Caco Ciocler, todo tempo em posição de ioga, tem excelente desempenho.


        O maior mérito do texto de Jô Bilac está na escolha dessas situações limites. As falas decorrem dessa escolha e fluem bem.
        Os cenários de Daniela Thomas e Felipe Tessara formados de poucos objetos de cena e projeções de imagens complementam a presença dos atores: mesa, cadeira e uma moldura clássica para a deficiente auditiva; destroços de carro e floresta para o acidentado; viaduto para a maratonista e banheiro para o candidato a meditação. Cenários simples e perfeitos que adquirem destaque com a iluminação de Monique Gardenberg.
        A música de Philip Glass é discreta e não acrescenta muito à montagem, assim como os figurinos de Cassio Brasil.
        Monique Gardenberg orquestra com mão segura todos esses elementos tendo como resultado um espetáculo harmônico e que faz pensar.
        Em muitos momentos as situações apresentadas induzem a um sorriso amargo, porém na noite em que assisti parte da plateia gargalhou na maior parte do tempo perturbando a melhor fruição do espetáculo.
        FLUXORAMA está em cartaz no Sesc Ipiranga às quintas e sextas às 21h, aos sábados às 19h e 21h e aos domingos às 18h até 21 de agosto.

        Fotos de Caio Gallucci

01/08/2016

Um comentário:

  1. Obrigado Cetra, vou assistir no proximo domingo.Recomendação sua é certeza! Esta história do publico rir, mesmo em dramas, é absurdo.Está ficando cada vez mais comum, há uma parcela de público que só procura isso!

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