segunda-feira, 22 de maio de 2017

OCUPAÇÃO RIO DIVERSIDADE


        Em certa parte do espetáculo Ocupação Rio Diversidade, a mestre de cerimônias Magenta Dawning comenta sobre as duas cidades irmãs Rio/São Paulo e fala das suas afinidades e diferenças como chamar biscoito de bolacha e vice-versa. Como duas boas irmãs uma gosta de falar mal da outra e uma voz quase corrente na cidade paulista é que a irmã carioca só sabe produzir no teatro comédinhas despretensiosas. Quem neste exato momento assiste a Race (Viga Espaço Cênico), Antígona (Teatro Anchieta) e, principalmente, este Rio Diversidade no Sesc Santana pode comprovar que trata-se de afirmação totalmente falsa.
        Ocupação Rio Diversidade é um dos mais contundentes libelos contra os preconceitos sexual e de gênero já apresentados em nossos palcos.
        A idealizadora do projeto, Marcia Zanelatto, teve o dom de reunir quatro autores e quatro diretores distintos harmonizando as quatro diferentes linguagens em uma montagem que no todo tem unidade tanto de ação como de pensamento. A excelente Magenta Dawning é o fio condutor do espetáculo fazendo os números de cortina que interligam as quatro peças curtas (20 minutos cada). Magenta tem observações ferinas não só sobre o tema tratado, mas também sobre a situação calamitosa em que nosso país se encontra.
        Genderless – Um Corpo Fora da Lei é a primeira peça. Autoria também de Marcia Zanelatto com interpretação minimalista e precisa de Larissa Bracher que se valendo apenas da luz de um IPad relata as agruras de Norrie May-Welby, nascida homem, que foi a primeira pessoa do mundo a ser reconhecida como genderless (sem gênero específico). A direção de Guilherme Leme Garcia concentra-se totalmente na movimentação da atriz.
        Como Deixar de Ser é de Daniela Pereira de Carvalho, autora já bastante conhecida dos palcos paulistanos e tem direção de Renato Carrera. Uma senhora presa em um quarto cheio de roupas velhas desespera-se ao lembrar-se de sua paixão e desejo por uma colega de trabalho e revolta-se com a presença de um gato deixado, no meu entender, por uma ex-companheira que morreu. Kelzy Ecard que já nos ofereceu interpretações poderosas em Breu e Incêndios repete a dose nesta cena.
        A Noite em Claro de Joaquim Vicente tem clara inspiração no brutal assassinato do diretor Luiz Antonio Martinez Corrêa ocorrido há exatos 30 anos (1987). Thadeu Matos em interpretação corajosa faz o assassino e a vítima. Direção de Cesar Augusto, componente da Cia. Dos Atores (outra prova irrefutável da seriedade de parte do teatro carioca).
        Flor Carnívora é uma viagem do talentoso Jô Bilac pelo mundo vegetal questionando: se as plantas podem ser trangêneras por que não o ser humano? A luminosa direção de Ivan Sugahara faz a intérprete Adessa Martins (que há pouco presenteou São Paulo com o ótimo Se Eu Fosse Iracema) circular por entre plantas que se movem e também pela plateia e corredores do teatro clamando “Abaixo a soja!”. Risos seguidos de reflexão percorrem a plateia que aplaude calorosamente ao final do espetáculo.
        OCUPAÇÃO RIO DIVERSIDADE faz temporada relâmpago de apenas dois finais de semana no Sesc Santana. O primeiro final de semana já passou. CORRA que ainda é tempo: a peça se apresenta sexta (26/05) e sábado (27/05) às 21h e domingo (28/05) às 18h. IMPERDÍVEL para quem acredita em um mundo menos transgênico e mais transgênero.


22/05/2017

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