domingo, 7 de maio de 2017

PESSOAS BRUTAS


        A Vida na Praça Roosevelt de Dea Loher (2005) e Roberto Zucco de Bernard-Marie Koltès (2010) inscrevem-se, no meu modo de ver, nos melhores trabalhos realizados por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, incansáveis batalhadores e líderes do grupo Os Satyros.
        A partir de Hipóteses Para o Amor e a Verdade (2009), incluindo a trilogia Pessoas, Ivam e Rodolfo criam a dramaturgia de seus espetáculos tendo como modelo o tipo de trama usado em A Vida Na Praça Roosevelt por Dea Loher, que no cinema se convencionou chamar de multiplot e que teve seu maior exemplo nos filmes de Robert Altman: são diversos núcleos com histórias que ocorrem em paralelo e que de alguma maneira as personagens desses núcleos se encontram ao final da peça. Além disso, aquelas criaturas urbanas e marginalizadas da peça de Loher também serviram de inspiração para a criação das peças posteriores. Não há nenhum demérito nisso, pois as peças demonstraram ter vida própria quando encenadas.


        Pessoas Brutas talvez seja aquela que mais se distancia do modelo de Loher e tem seu grande mérito na busca de humanidade em personagens tão acabadas moralmente. Essas figuras vagueiam pelo mundo buscando sensações nas drogas, na vingança, no sexo, no crime e no tirar vantagem de quem quer que seja e, no entanto, acreditam em um amanhã melhor, que com certeza nunca chegará.     Os diversos núcleos têm diversas personagens e as melhores construídas são aquelas de Teodoro (Ivam Cabral), Olívio (Robson Catalunha) e Disneilandia – um achado o nome desta personagem- (Julia Bobrow), os três em ótimas interpretações. Todas as outras personagens são apresentadas em flashes e servem de apoio para o desenvolvimento da trama que culmina em uma reunião do grupo “Quem Quer Amigos?” (a ironia!!) com desfecho que não será relatado aqui para que não se chame este articulista de spoiler! A peça termina com Disneilandia e o elenco cantando I Have a Dream do grupo Abba para o daddy Sancho. Pedir mais ironia para os tristes dias que estamos vivendo seria demais!! Belo e triste fecho para essas Pessoas Brutas que merecem ser visitadas.
        Destaque para os figurinos das tristes figuras criados por Bia Pieratti e Carol Reissman. A ficha técnica não especifica a autoria das máscaras dos atores, talvez criada por cada um deles. Iluminação precisa de Flavio Duarte.
        PESSOAS BRUTAS está em cartaz no Espaço dos Satyros de quarta a sexta feira ás 21h.

         Fotos de Andre Stefano.


07/05/2017

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