terça-feira, 9 de maio de 2017

UMA VIDA BOA


        Teena Brandon nasceu do sexo feminino, mas tinha todas as características, sensações e comportamentos de um homem. Rejeitada pela família e pela sua cidade, muda-se adotando o nome de Brandon Teena e leva a vida como homem até ser descoberta pelo amigo de sua namorada e ser assassinada por ele. Esse fato ocorrido nos Estados Unidos é só um trágico exemplo do que já aconteceu e ainda acontece em qualquer outro lugar onde o ódio homofóbico está presente. O filme de 1999 Meninos Não Choram (Boys Don’t Cry) de Kimberly Peirce baseou-se nesse assunto com interpretação memorável de Hilary Swank que lhe valeu o Oscar daquele ano.
        Tema tão urgente e importante em país que só se diz tolerante com a diversidade, mas que mostra a verdadeira face preconceituosa em muitas ocasiões merecia visita de um dramaturgo brasileiro e Rafael Primot o fez: Uma Vida Boa é sua versão da triste trajetória de um homem em corpo de mulher.
        Amanda Mirásci carrega o espetáculo nas costas: sua entrega a personagem tão complexa é total. Sempre se equilibrando em certa delicadeza (que poderia soar como feminina) e a virilidade sempre exteriorizada pelos machões de plantão, Amanda nos dá comovente retrato do que se passa no interior daquela complexa criatura.
        Tanto a autoria como a direção (Diogo Liberano) são tímidas parecendo não querer por o dedo em ferida tão profunda. Os assuntos são tratados de maneira superficial, assim como os personagens secundários (a namorada e o amigo) interpretados de maneira também superficial e exteriorizada por Daniel Chagas e Julianne Trevisol. Sendo assim resta a interpretação de Amanda para dar conta de assunto tão sério sobre uma vida absolutamente nada boa!


        Escrevi há alguns dias sobre RACE: “Nesses tempos onde o ódio e a intolerância parecem dominar as relações entre as pessoas, a peça mais que necessária é OBRIGATÓRIA”. Afirmo o mesmo para UMA VIDA BOA. Na primeira tratava-se da questão racial, na segunda trata-se da questão de gênero aonde o preconceito e a intolerância conduzem ao limite do extermínio da vítima: um rapaz em corpo de mulher. Pela urgência do tema e pela atuação pungente e corajosa de Amanda Mirásci, vale a pena conferir o espetáculo em cartaz no Teatro Eva Herz às quintas e sextas às 21h até 26/05.

09/05/2017

       


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