Qualquer
maneira de amor vale aquela
Qualquer
maneira de amor valerá
(Caetano
Veloso e Milton Nascimento)
O
teatro dito comercial é olhado de viés pelo assim chamado meio intelectual. No
entanto, é preciso separar o joio do trigo, pois um espetáculo bem estruturado,
com produção elaborada, feito com dignidade e seriedade não deve assustar
ninguém e sim, DIVERTIR e ENTRETER, que são seus principais objetivos, além, é
claro, do retorno financeiro (afinal, trata-se de teatro “comercial”). Sobre o
joio nem é necessário falar, basta olhar para alguns títulos em cartaz em
certos teatros que se especializaram nesse tipo de montagem.
Esse
pensamento me veio à tona ao assistir com muito prazer e porque não dizer, com
muita surpresa, a dois espetáculos ainda em temporada na cidade.
CANTANDO
NA CHUVA é uma delícia baseada em outro biscoito realizado no cinema em 1950.
Transformado em espetáculo teatral (via rara, pois normalmente é o cinema que
transforma obras teatrais em filmes), fez muito sucesso na Broadway e agora
aportou por aqui por iniciativa do casal Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello.
Claudia Raia em gesto bastante elogiável não faz o papel principal, deixando
aquele da “mocinha” para a adorável Bruna Guerin, que coleciona sucessos desde
sua atuação em Urinal. O trio
principal é composto por Jarbas Homem de Mello (sempre ótimo) e o surpreendente
Reiner Tenente. Claudia Raia, por sua vez ficou com a personagem impagável de
Lina Lamont e é responsável pelos momentos mais engraçados do espetáculo.
Participa também com excelente performance
na cena que Cyd Charisse imortalizou no cinema. Tudo funciona na peça que
reproduz quase literalmente cenas, gestos e coreografias do filme. É um produto
importado, mas tem o jeitinho brasileiro de seus realizadores e alimenta a alma
de quem o assiste.
HEBE,
O MUSICAL vai por outro caminho. Miguel Falabella, que cada vez mais tem sua
atenção voltada para realização de musicais (vide a obra prima que foi a sua
versão para O Homem de la Mancha) faz
aqui uma comovente homenagem à comunicadora que foi Hebe Camargo, por meio de
simples, mas bem bolada dramaturgia (Artur Xexéo) que conduz a história através
de programa de perguntas e respostas onde uma jovem responde sobre a vida de
Hebe. Detalhe hilário e verdadeiro (fui testemunha disso nos primórdios da
televisão) é a garota propaganda que apresenta produtos que não correspondem às
qualidades prescritas no texto que ela tem que dizer (bela homenagem a Idalina
de Oliveira, Wilma Chandler, Neyde Alexandre e tantas outras).
O primeiro ato é todo em branco e preto,
símbolo da televisão antes da chegada do colorido. Cenários suntuosos e figurinos
significativos e bregas (comme il faut!)
fazem o deleite do espectador, assim como as coreografias e a trilha sonora
repleta de canções da época em que Hebe cantava.
Tudo
isso seria supérfluo sem a forte presença de Débora Reis que caracteriza Hebe
na medida certa, sem cair na caricatura (algo que seria muito fácil diante da
histrionice de Hebe). Atriz e cantora, Débora é a grande estrela do espetáculo
e merece a clamorosa ovação que recebe ao final do mesmo.
(*)
Uma ressalva: as péssimas acomodações do Teatro Procópio Ferreira que necessita
urgentemente de reformas em suas poltronas e nas instalações sanitárias.
Dois
ótimos espetáculos que meu lado preconceituoso quase fizeram com que eu
perdesse e que me deram imenso prazer e alegria.
VIVA
O TEATRO FEITO COM COMPETÊNCIA E DIGNIDADE.
QUALQUER
MANEIRA DE AMOR VALE A PENA... DESDE QUE SEJA AMOR!
CANTANDO NA CHUVA – Teatro Santander – Quinta
e sexta (21h)/Sábado (17h e 21h)/Domingo (16h e 20h). Até 17/12.
HEBE – O MUSICAL – Teatro Procópio Ferreira
– Quinta e sexta (21h)/Sábado (17h e 21h)/Domingo (18h). Até 17/12.
24/11/2017
Fiquei até com vontade de rever o filme é assistir à Cantando na Chuva. Quanto ao Hebe, gostei da leveza e do domínio vocal da atriz e cantora Débora Reis. Obrigada Zé.
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