sexta-feira, 24 de novembro de 2017

SOBRE HEBE E CANTANDO NA CHUVA


Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá
(Caetano Veloso e Milton Nascimento)

        O teatro dito comercial é olhado de viés pelo assim chamado meio intelectual. No entanto, é preciso separar o joio do trigo, pois um espetáculo bem estruturado, com produção elaborada, feito com dignidade e seriedade não deve assustar ninguém e sim, DIVERTIR e ENTRETER, que são seus principais objetivos, além, é claro, do retorno financeiro (afinal, trata-se de teatro “comercial”). Sobre o joio nem é necessário falar, basta olhar para alguns títulos em cartaz em certos teatros que se especializaram nesse tipo de montagem.
        Esse pensamento me veio à tona ao assistir com muito prazer e porque não dizer, com muita surpresa, a dois espetáculos ainda em temporada na cidade.


        CANTANDO NA CHUVA é uma delícia baseada em outro biscoito realizado no cinema em 1950. Transformado em espetáculo teatral (via rara, pois normalmente é o cinema que transforma obras teatrais em filmes), fez muito sucesso na Broadway e agora aportou por aqui por iniciativa do casal Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello. Claudia Raia em gesto bastante elogiável não faz o papel principal, deixando aquele da “mocinha” para a adorável Bruna Guerin, que coleciona sucessos desde sua atuação em Urinal. O trio principal é composto por Jarbas Homem de Mello (sempre ótimo) e o surpreendente Reiner Tenente. Claudia Raia, por sua vez ficou com a personagem impagável de Lina Lamont e é responsável pelos momentos mais engraçados do espetáculo. Participa também com excelente performance na cena que Cyd Charisse imortalizou no cinema. Tudo funciona na peça que reproduz quase literalmente cenas, gestos e coreografias do filme. É um produto importado, mas tem o jeitinho brasileiro de seus realizadores e alimenta a alma de quem o assiste.


        HEBE, O MUSICAL vai por outro caminho. Miguel Falabella, que cada vez mais tem sua atenção voltada para realização de musicais (vide a obra prima que foi a sua versão para O Homem de la Mancha) faz aqui uma comovente homenagem à comunicadora que foi Hebe Camargo, por meio de simples, mas bem bolada dramaturgia (Artur Xexéo) que conduz a história através de programa de perguntas e respostas onde uma jovem responde sobre a vida de Hebe. Detalhe hilário e verdadeiro (fui testemunha disso nos primórdios da televisão) é a garota propaganda que apresenta produtos que não correspondem às qualidades prescritas no texto que ela tem que dizer (bela homenagem a Idalina de Oliveira, Wilma Chandler, Neyde Alexandre e tantas outras).
        O primeiro ato é todo em branco e preto, símbolo da televisão antes da chegada do colorido. Cenários suntuosos e figurinos significativos e bregas (comme il faut!) fazem o deleite do espectador, assim como as coreografias e a trilha sonora repleta de canções da época em que Hebe cantava.
        Tudo isso seria supérfluo sem a forte presença de Débora Reis que caracteriza Hebe na medida certa, sem cair na caricatura (algo que seria muito fácil diante da histrionice de Hebe). Atriz e cantora, Débora é a grande estrela do espetáculo e merece a clamorosa ovação que recebe ao final do mesmo.
        (*) Uma ressalva: as péssimas acomodações do Teatro Procópio Ferreira que necessita urgentemente de reformas em suas poltronas e nas instalações sanitárias.

        Dois ótimos espetáculos que meu lado preconceituoso quase fizeram com que eu perdesse e que me deram imenso prazer e alegria.

        VIVA O TEATRO FEITO COM COMPETÊNCIA E DIGNIDADE.

        QUALQUER MANEIRA DE AMOR VALE A PENA... DESDE QUE SEJA AMOR!


CANTANDO NA CHUVA – Teatro Santander – Quinta e sexta (21h)/Sábado (17h e 21h)/Domingo (16h e 20h). Até 17/12.

HEBE – O MUSICAL – Teatro Procópio Ferreira – Quinta e sexta (21h)/Sábado (17h e 21h)/Domingo (18h). Até 17/12.  


24/11/2017

Um comentário:

  1. Fiquei até com vontade de rever o filme é assistir à Cantando na Chuva. Quanto ao Hebe, gostei da leveza e do domínio vocal da atriz e cantora Débora Reis. Obrigada Zé.

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