BALANÇO da 5ª MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO DE SÃO
PAULO (MITsp)
(01-11/03/2018)
Questões
de trabalho e um problema de saúde impediram que eu acompanhasse mais de perto
a Mostra deste ano. Não participei de nenhuma das atividades paralelas me
limitando aos espetáculos internacionais, ainda assim deixando de assistir a Hamlet e sal..
Para
este espectador dois espetáculos já justificariam a realização do evento de
2018 criado como sempre com muita garra por Antonio Araújo e Guilherme Marques.
São eles: Árvores Abatidas (Polônia)
e Campo Minado (Argentina).
Campo
Minado da argentina Lola Arias é teatro documento (ou teatro
depoimento, pois os atores são as pessoas que viveram o que é apresentado) da
melhor qualidade. Seis veteranos da Guerra das Malvinas (três argentinos e três
ingleses) apresentam fatos ocorridos nesse absurdo evento e como cada um deles
esteve envolvido no mesmo. Recursos simples de projeção de documentos e fotos ilustram
eficazmente a encenação. O que foi animosidade no passado revela-se hoje uma
camaradagem, mostrando o profundo humanismo contido na encenação de Arias.
Árvores
Abatidas foi o grande momento - momento esse de quase cinco horas! –
desta Mostra. O espetáculo de Krystian Lupa, que tem por base o romance
homônimo de Thomas Bernhard, é um verdadeiro mosaico da condição humana. A
cenógrafa Joana suicidou-se e ela fazia parte de um grupo de artistas. A partir da reunião para um jantar desses
artistas, que tiveram momentos de glória e de criatividade e que hoje amargam
uma alienante decadência, são mostradas as mazelas da sociedade contemporânea
sem nunca esquecer as questões teatrais que envolvem esses personagens. Vários
temas são abordados: o suicídio, o papel do artista diante da arte e do poder
envolvido e as relações humanas do modo mais abrangente possível. Junta-se a Cineastas (2014), A Gaivota (2015), Opus nº 7
(2015) e Ça Ira (2016), outros
preciosos espetáculos trazidos pela MIT
Mas houve também a surpreendente vocalização
(digna dos Swingle Singers, quem se
lembra?) do grupo dirigido por Joris Lacoste em Suíte Nº 2, o humor non sense do estranho musical King
Size
orquestrado por Christoph Marthaler, a performance de Bertrand Lesca e Nasi
Voutsas em Palmira que, daquela antiga cidade da Síria só leva o título,
para fazer uma interessante discussão da relação opressor e oprimido onde a
plateia tem que tomar partido de um dos lados e, finalmente, País
Clandestino, simpática encenação de cinco
encenadores/dramaturgos/atores de origens diversas (incluindo o nosso Pedro
Granato) que tem ótimos momentos, mas peca, ao meu ver, ao não decidir se
enfatiza o público (política, manifestações) ou o privado (relações familiares,
recado aos filhos que virão), ficando no meio termo, sem aprofundar nenhum
deles.
Cabe
lembrar a importância da realização da MITbr que teve como objetivo mostrar aos
artistas estrangeiros presentes no evento, um pouco do teatro que se realiza no
Brasil, com a possibilidade de “internacionalizar” as artes cênicas brasileiras.
Como
bem lembrou Danilo Santos de Miranda na abertura da MITsp, a chama e o espírito
empreendedor de festivais internacionais de teatro em São Paulo implantados
heroicamente por Ruth Escobar em 1974 estão acesas pelas mãos dos guerreiros
Antônio Araújo e Guilherme Marques. E que venha a MITsp 2019!!
11/03/2018
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