No
final dos anos 1960 e início da década de 1970, em plena ditadura militar, o
Baixo Augusta era tomado por aquilo que a esquerda festiva chamava de
divertimento burguês e alienado. Ali proliferavam boates e bares onde era comum
se assistir a shows de Leny Andrade, Johnny Alf, Roberto Carlos, Maria Bethânia
e até Elis Regina (na A Baiúca na Praça Roosevelt). Não havia as
saunas mixtas de hoje; eram boates frequentadas por estudantes e pela classe
média alta que normalmente apresentavam ótimas atrações musicais. Em 1971 surge
a famosa Boate Medieval, que mobilizou a ainda tímida comunidade gay
paulistana. Quatro bons cinemas ocupavam a “baixa” Rua Augusta: Picolino, Majestic (atual Espaço Itaú
de Cinema), Cosmos 70 e Marachá, mas não havia nenhum teatro na
região.
É
nesse ambiente que em 1973, Luiz Sérgio Person (1936-1976) com o auxílio de
Glauco Mirko Laurelli (1930-2013) inaugura em grande estilo o Auditório Augusta. O espetáculo
inaugural foi El Grande de Coca Cola,
dirigido por Person e interpretado, entre outros, por Armando Bógus, Cacilda
Lanuza e Suely Franco. Era uma encenação no estilo cabaré onde uma família de
artistas mambembes fingia-se de uma companhia com grandes atrações
internacionais. Divertida e inconsequente a peça fez enorme sucesso, o que
incentivou o diretor a partir para algo mais sério no ano seguinte e encenar Entre Quatro Paredes de Sartre.
O
maior sucesso do Auditório Augusta
estava por vir. No mesmo 1974 Person dirige Orquestra
de Senhoritas de Jean Anouilh. O teatro foi transformado em um
café-concerto e as “senhoritas” eram interpretadas por homens, algo que remetia
ao filme Quanto Mais Quente Melhor (1959) de Billy Wilder, a melhor comédia
cinematográfica de todos os tempos. Paulo Goulart teve um dos grandes momentos
de sua carreira, interpretando a impagável Madame Hortense, a líder tirânica da
orquestra. A peça foi o fenômeno teatral da temporada de 1974 seguindo em
cartaz até o ano seguinte. Foi o auge do Auditório,
que além dessa atração principal, apresentava shows, exposições de arte e
espetáculos em horários alternativos, caso de outro sucesso, o excelente Brecht Segundo Brecht, dirigido por Oswaldo Mendes.
Em
1975 a casa apresenta a polêmica Lição de
Anatomia, peça de origem argentina onde os atores se apresentavam nus.
Com
a morte de Person em 1976, a administração do teatro segue com Glauco Mirko
Laurelli e até o final dos anos 1980 apresenta vários espetáculos
significativos como A Noite dos Campeões, Volpone, Patética, Besame Mucho
e Na Carrêra do Divino (2ª montagem).
A
década de 1990 não é das melhores para o espaço, culminando com o seu
fechamento em 1995.
Por
iniciativa de Joaquim Goulartt a casa é reformada e reinaugurada em 1999 agora
com o nome de Teatro Augusta. A
partir daí surgem bons espetáculos como Visitando
o Sr. Green com Paulo Autran, Navalha
na Carne, Aldeotas, R&J, Cândida,
alguns deles na Sala Experimental, pequeno
espaço multiuso reservado para espetáculos experimentais/alternativos.
Em
2015 o teatro passa para as mãos dos jovens atores Luciana Garcia e Tiago
Pessoa que rebatizaram a sala principal com o nome de Paulo Goulart. Um
sensacional retorno dos Dzi Croquettes
e significativos espetáculos alternativos na Sala Experimental marcam
positivamente a gestão de seus novos donos.
Comemorando
45 anos em 2018, o Teatro Augusta é
um dos mais importantes espaços cênicos da cidade de São Paulo e como todo
teatro é um templo sagrado de esperança e utopia. Espera-se que a curadoria (Isabel Pessoa)
realize uma programação que contemple tanto o lado comercial como o artístico
fazendo jus à tradição desse importante espaço cultural que enobrece o Baixo
Augusta.
19/02/2018
Tive o privilégio de frequentar a Rua augusta na década de 60 quando cabulava as aulas no ginásio e ia tomar coca cola fazendo pose no Bar Frevinho, na década de 70, não perdia um espetáculo, e em 80 participei da reinauguração do teatro, como assistente de produção do Paulo Klein do Procopiarte, um hapenning incrível que parou a Rua Augusta. Depois disso trabalhei em quase todas as produções que aconteceram lá entre 80 e 81 quando me mudei para Joenville. Hoje estou em Mogi das Cruzes, e guardo maravilhosas lembranças vividas nesse espaço. Viva Dionísios
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