Ao
que eu me lembre foi em 2013 que pela primeira vez em teatro tive o impacto de assistir a uma intensa
situação dramática (bipolaridade, perda de entes queridos, tratamento com
eletrochoque) tratada na forma de musical. Quase
Normal era a peça de Brian Yorkey e Tom Kitt, aqui dirigida por Tadeu
Aguiar e com grande interpretação de Vanessa Gerbelli. Em 2015 foi a vez de Urinal de Mark Hollmann e Greg Kotis dirigida por Zé Henrique de
Paula mostrando de forma realista os problemas vividos pelos menos favorecidos
pelo poder do capital.
Esses
experimentos realizados nos teatros off
Broadway por autores norte americanos chegaram até nós nesta segunda década do
século 21 demonstrando que há vida inteligente no planeta dos musicais dominado
pelas historinhas superficiais e alegres.
Pacto – A História de Leopold & Loeb,
ora em cartaz no Teatro Porto Seguro é experiência ainda mais radical. Trata de
assunto escabroso baseado em fatos reais (o assassinato de um adolescente por
dois jovens desajustados em 1924 em Chicago) com apenas dois atores/cantores e
um pianista. Texto e música de Stephen Dolginoff em excelente versão brasileira
dos dois atores da peça, que também tiveram a iniciativa de montá-la e mais uma
vez sob a direção de Zé Henrique de Paula.
Na
peça os jovens Nathan Leopold e Richard Loeb são assumidamente homossexuais,
algo relativamente camuflado nas versões cinematográficas de Hitchcock (Festim Diabólico, 1951) e de Richard
Fleischer (Estranha Compulsão, 1959)
e a versão da história é contada pelo velho Leopold prestes a sair da prisão
após mais de 30 anos de confinamento. Segundo ele foi sua obsessão por Loeb que
o fez participar do crime hediondo planejado pelo primeiro, para provar que eles eram os seres superiores
proclamados como super homens por Nietzsche.
Apesar
do tema bastante forte e sério a peça sugere alguns momentos de descontração e
até engraçados, algo que a direção e os atores fazem bom uso e o público
responde com boas risadas.
Leandro
Luna (Leopold) e André Loddi (Loeb) se desincumbem com muita dignidade dos seus
papéis passando da fala ao canto de maneira natural e harmoniosa. Presença
importante é aquela do pianista (Andrei Presser) que também interpreta o
Promotor de Justiça e a quem o programa não dá o devido destaque.
A
direção de Zé Henrique de Paula destaca o trabalho dos atores e é bem apoiada
pela segura direção musical de Guilherme Terra e a iluminação sempre criativa
de Fran Barros. Cenário e figurinos também assinados pelo diretor remetem à
época da ação da peça.
PACTO
é um dos bons momentos teatrais deste iniciante segundo semestre e merece uma
visita ao Teatro Porto Seguro às quartas e quintas feira às 21h. Em cartaz até
30 de agosto.
12/07/2018
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