segunda-feira, 15 de outubro de 2018

AS BRASAS



        Com esse título o húngaro Sándor Márai (1900-1989) escreveu um dos seus mais importantes e populares romances. Trata-se do encontro depois de mais de 40 anos de dois homens que foram amigos íntimos e cujo motivo da separação é algo ainda não esclarecido. O romance escrito em boa parte na forma de diálogo não deve ter dado muito trabalho para Duca Rachid e Julio Fischer fazerem a transposição para a linguagem teatral, aliás, muitíssimo bem realizada.
        Os diálogos envolventes são ditos com maestria pelos dois atores Herson Capri e Genézio de Barros que interpretam Henrik, o visitado e Konrad, o visitante; respectivamente. O visitado tem uma série de questões pendentes com o visitante que envolve uma caçada e uma mulher (Kriztina, que foi esposa do primeiro). Além de certas rememorações do passado, a peça passa-se em tempo real durante a breve visita de Konrad a Henrik. Há uma bela e discreta participação da cellista Nana Carneiro da Cunha que além de tocar a trilha original de Marcelo Alonso Neves faz intervenções como a esposa Kriztina.
        A ação da peça passa-se no castelo habitado por Henrik e que foi palco no passado dos fatos relembrados nessa noite onde deveriam acontecer revelações, mas que por opção do autor, elas não acontecem ficando as mesmas na imaginação do leitor/espectador.


        Não tenho nada contra atualizar ambientes cênicos quer para dar um toque contemporâneo à montagem, quer por mera economia de produção, mas é necessário haver harmonia e certa beleza, coisa que não acontece com o cenário de Bia Junqueira formado por tubos escuros, sacos plásticos pretos, uma mesa flutuante, uma vasta faixa iluminada que representa uma lareira e duas poltronas. No meu modo de ver esse cenário empobrece a bela montagem dirigida com sobriedade por Pedro Brício. A iluminação de Renato Machado atenua esse problema.

Capa do livro editado pela Companhia das Letras que sugere um cenário para o castelo de Henrik.

        Com pouco menos de uma hora o espetáculo de Pedro Brício prende a atenção pela força do texto, pelas interpretações de Herson Capri e de Genézio de Barros, pela intervenção musical de Nana Carneiro da Cunha e pela movimentação dos atores no espaço cênico que nunca deixa a ação se tornar monótona.

        AS BRASAS está em cartaz no SESC Santana às sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 18h até 04 de novembro. NÃO DEIXE DE VER.

        15/10/2018

Um comentário:

  1. Li o livro há algum tempo e gostei demais.
    Agora vou ter que dar um jeito para não perder a peça.

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