O
que acontece quando surge uma vaga que representa promoção e perspectivas de
ascensão ao topo do organograma de uma grande empresa? Os ânimos se inflamam, a
competividade fica à flor da pele e são usadas estratégias nem sempre éticas
para se conseguir o posto almejado. É disso que trata a peça de Roland
Schimmelpfennig (1967 -), dramaturgo alemão pela primeira vez montado no
Brasil.
O autor Roland Schimmelpfennig
É
interessante e original a maneira como Schimmelpfennig conduz a narrativa,
usando em seu drama realista recursos de distanciamento tão caros ao teatro
épico como as quebras de diálogo.
São
apresentadas três situações todas elas envolvendo duplas de personagens. Essas
situações são sempre testemunhadas por dois funcionários da segurança da
empresa que funcionam como uma espécie de narradores e fios condutores da
trama. Há uma espécie de coro sem palavras que comenta a ação, formado por
aqueles que não estão na cena; esse coro sobe e desce uma escada para entrar e
sair de cena em recurso a princípio interessante, mas que pelas inúmeras vezes
que ocorre acaba se tornando repetitivo e previsível.
O
elenco de oito atores é bastante homogêneo e cada ator tem seu momento de
destaque tanto nos monólogos dos vigias (Karlla Braga e Fabio Acorsi) como nos saborosos
duetos: da frustrada presidente da empresa (Antoniela Canto) com a funcionária
(Sabine Vasconcellos) que pleiteia uma vaga em Nova Dehli e para tanto já
transou com o chefão, marido da presidente; do chefe e funcionária que já
tiveram o melhor sexo de suas vidas e agora se odeiam (Isabella Lemos e Daniel Faleiros
Migliano) e do chefe e funcionário, ambos candidatos à vaga de Nova Dehli
(Fulvio Filho e João Bourbonnais). Esses embates de tão cruéis chegam a ser
cômicos e o elenco sabe tirar partido das nuances de seus personagens.
A
direção de César Baptista tem seus pilares no desempenho do elenco, de sua
movimentação em cena, no eficiente desenho de luz de Wagner Pinto e,
principalmente, no objetivo de passar com a maior clareza o bom texto de
Schimmelpfennig, que extrapola o cenário empresarial para mostrar que o ser
humano da contemporaneidade tornou-se ainda mais individualista e competitivo, esquecendo-se
da humanidade que deveria reger os relacionamentos humanos. Utopia? Pode ser.
Mas a arte tem que buscar o utópico possível, como já disse Ariane Mnouchkine.
PUSH
UP está em cartaz no Viga Espaço Cênico às terças e quartas às 21h até 18/12.
07/11/2019
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